quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Senta que lá vem a história...

O suspiro das montanhas

Muitos anos se passaram e as montanhas perceberam que os homens não
apareceram mais por perto delas. As serras queriam saber por que os homens deixaram
de apreciar a caminhada por suas encostas. Então a Montanha-rei chamou os ventos, e
disse:
- Vá para a cidade e procure saber por que os homens não vêm mais acampar
perto de nós como antigamente. Nós sempre fomos o melhor esconderijo para os
homens! Quero saber o que está acontecendo, por que eles não aparecem mais por aqui
nem caminham mais pelas montanhas.
Os ventos foram na direção da cidade. Passou-se muito tempo, e então voltaram.
Mas voltaram com muito barulho. Eles não eram mais suaves nem refrescantes; eram
poluídos, escuros, agitados e agressivos. As serras se assustaram, fecharam suas faces.
As árvores viraram suas folhas e todos sentiram um ar estranho. A Grande Montanha,
com voz grave e preocupada perguntou:
– Meus ventos contem o que viram! O que acontece na cidade e o que ocupa os
homens? O que eles estão fazendo?
O Vento começou a falar com angústia e tristeza:
 – Minha majestade, os homens estão muito ocupados, estão sempre cansados e
agitados; procuram algo e parece que nunca acham. Tentam se sossegar, mas não
relaxam; comem, mas não se alimentam; choram, mas não se emocionam; dormem, mas
não descansam; riem, mas não se regozijam. 
– O que eles fazem e o que desejam? Perguntou a Grande Serra.
– Aparentemente todos estão na busca de sua sobrevivência. Não há algo errado,
mas todos estão inquietos e preocupados. Não é claro o motivo de tanta agitação. Mesmo
nos dias de mesa farta, chegam à mesa com a mente cheia de medo e preocupação. 
– O que eles buscam? Perguntou a majestade das montanhas.
– Não se sabe, mas falam de uma coisa, da tal de “oportunidade” – explicou o
Vento sábio. Uns dizem que tiveram muitas, outros dizem que nunca a tiveram. Mesmoassim, quem diz que já teve muitas “oportunidades boas” na vida, é o mais agitado de
todos. Estranho é que quando alguém encontra tal oportunidade, todo mundo fala para
este que deve aproveitar, mas ninguém fica feliz por ele. Quem também a achou, logo
esquece que ganhou uma oportunidade e que deveria aproveitá-la bem, e começa a falar
de outra, e ficar ansioso por atingi-la. 
– Para que serve esta tal oportunidade? Perguntou a Montanha-rei. 
– Eles dizem que quem a achar terá uma vida muito boa. Mas nunca se viu uma
pessoa satisfeita com as oportunidades que tivera. O pior é que eles sempre passam
pelos belos e bons momentos e não captam a importância deles. 
– Que momentos? Perguntou a majestade das montanhas. 
– Momentos para olhar o outro, para sorrir, para se divertir, para brincar com os
filhos, para visitar alguém, alegrar algum coração, ou aprender algo novo. Enfim, as
pessoas passam tão rápido por esses momentos que não percebem que perderam a tal
oportunidade tanto desejada. 
– Agora entendemos por que os homens deixaram de caminhar pelas montanhas –
disse a grande Serra. Eles estão correndo atrás de oportunidades e por isso estão
perdendo a oportunidade de conviver com a natureza, de se enriquecer com as vozes das
montanhas, de perceber a melodia dos ventos, os sinais das estrelas, a conversa das
folhas, e de refletir sobre a grandeza de criação de Deus e o objetivo de sua própria
existência. 
As montanhas perceberam, então, que os homens não estavam usufruindo os
bons momentos de sua vida e sentiam profunda tristeza. Os suspiros tristes das
montanhas movimentaram as nuvens que verteram lágrimas sobre as terras. Os ventos
levaram com força o seu gemido na direção da cidade. As chuvas chegaram lá com
barulho, e, junto com os ventos bravios, invadiram as casas e inundaram as ruas. Logo
depois, as nuvens pretas abaixaram-se, soando as trombetas do seu trovão. Mas
ninguém na cidade percebeu que estas eram as lágrimas das montanhas e seus gritos
para acordar os homens. Nada funcionou. Apenas as crianças choraram.
Realmente na incessante corrida em busca de se satisfazer, há uma constate
perda de boas oportunidades. Infelizmente, só se percebe esta perda quando o tempo se
esgota.Quantas vezes uma pessoa perde a oportunidade de agir e substitui as suas
indagações apenas por um discurso, e se dá por satisfeita devido a aplausos da plateia.
Quantas pessoas escrevem sobre a beleza do mundo que querem construir e perdem a
chance de consertar um pedaço deste. Quantas pessoas falam dos belos princípios e
elevados conceitos e deixam de demonstrá-los na prática a seus queridos. E quantas
pessoas proferem as palavras de Deus com todo fulgor e perdem os momentos certos de
difundir as fragrâncias destas palavras em seus gestos e atos. 
As montanhas tinham razão: perto da sua grandeza e tranquilidade o homem
encontraria um excelente lugar para refletir. Refletir sobre as belas oportunidades que lhe
escaparam enquanto estava agarrado às suas fantasias de oportunidade. 
Para refletirmos, abaixo dois pensamentos de Bahá’u’lláh, fundador da Fé Bahai:
“Ó MEU SERVO! Liberta-te dos grilhões desse mundo e desprende tua alma da
prisão do ego.”
“Alimentai-vos, ó povo, com as boas coisas que Deus vos concedeu e não vos
priveis de Suas graças maravilhosas.” 
Disponível em: http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/jornada_II/bahai_lea_suspiro_montanhas.pdf

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