sexta-feira, 21 de junho de 2013

MÁSCARAS

AS MÁSCARAS
*por Tata Kiretauã - Marcos Ribas
Irmãos e amigos de cultura e crença venho através desta postagem falar um pouco das questões que se referem aos cerimoniais de sala, principalmente no que diz respeito às vestimentas e paramentos de nossos Minkisi e gostaria também de falar um pouco sobre o assentamento (Kuxikama/Mbenge) do Nkisi.
Desde a implantação das primeiras casas de culto Bantu Kongo e Ngola no Brasil, a mais de 120 anos atrás, nossas raízes sempre estiveram ligadas direta e indiretamente com outras tradições e culturas, principalmente com a nação Nagô/Yorubá Ketu.
Essa ligação começou e ainda se encontra presente em nossas casas, por vários motivos, o principal creio eu, foi que os negros de origem Bantu chegaram a nosso continente quase 200 anos antes que os negros de origem Nagô/Yorubá.
Por terem chegado bem antes, a “desafricanização” dos Bantu ocorreu de uma forma quase que natural, não só da sua essência religiosa, como também em todos os outros fatores de suas vidas.
Já com os negros Bantu desafricanizados e muitos deles por imposição de seus senhores, foram obrigados a aderir ao cristianismo e com a chegada dos Nagô/Yorubá, já com a escravidão de uma forma mais “branda”, os Nagôs tiveram como implantar suas tradições e culturas religiosas de uma forma mais forte e abrangente.
Pois bem, esse seria um dos fatores que fizeram  com que o candomblé de Ketu sobressaísse ao candomblé Kongo/Ngola  e que quase de uma maneira total se fizesse presente e necessário nas casas (jinzo) de culto e tradição Bantu, pois os próprios descendentes dos negros Bantu, já haviam perdido muito de seu culto religioso e permitiram que a culto religioso Nagô fosse necessário dentro de suas casas, com isso muito de seus fundamentos, foram abraçados e utilizados nas casas de culto Ngola e Kongo.

Além das línguas, comidas, fundamentos, louvações e também das próprias Divindades, o candomblé Kongo/Ngola também acabou utilizando-se das vestimentas e paramentos que haviam sido implantados aqui mesmo no Brasil nas casas de cultura Nagô/Yorubá, como também os antigos sacerdotes de Ngola e Kongo aderiram às louças européias, que também teriam sido implantadas aqui no Brasil nas tradições Nagô/Yorubá, como até nos dias atuais continuam sendo utilizadas nas casas de  Ngola e Kongo.
Falarei primeiro sobre as questões das máscaras (Mukange ou Mukangila), vestimentas e paramentos e depois sobre a elaboração de nossos assentamentos (Jimbenge).
Sabemos que tanto os Minkisi dos povos Bantu quanto os Orixás (Orisá) dos Nagô/Yorubá em seus rituais em África, quando as Divindades tomavam através de possessão seus filhos, suas vestimentas eram muito diferentes das que foram implantadas aqui no Brasil.
Usavam poucos tecidos (panos), vestindo suas Divindades viradas em seus filhos com elementos naturais, cobrindo grande parte do corpo com  folhas, ervas, palhas de palmeiras, couro de animais como búfalos, antílopes e etc...usavam também ornamentos como: búzios, favas, pequenas pedras (terracota), corais e etc.
Aqui no Brasil, no final do século XIX e começo do XX, os antigos sacerdotes de tradição Nagô/Yorubá da nação Ketu implantaram em seus cultos lindas vestimentas de finos tecidos, metais e ornamentos exuberantes imitando coroas.
Seus Orixás (Orisá) usavam e ainda usam longas saias de tecidos brilhosos oriundos do modismo europeu da época, que chegou à sociedade baiana......... Com isso também o candomblé de Kongo e Ngola, que já sofria com a forte influência Nagô também aderiu a essa implantação.
Todos nós sabemos que as máscaras fazem parte da cultura do povo Bantu, digo fazem porque até hoje existem cultos em aldeias e vilas afastadas das grandes cidades em África Bantu.
Muitos não concordam com o uso das máscaras aqui no Brasil, pois dizem que as mesmas não atravessaram o Atlântico..... Eu pergunto, e as longas saias, adês e filás, os paramentos em metais vieram da mãe África?? É claro que não..... Foram implantados aqui no Brasil.... E, se foram implantados pelos antigos sacerdotes, porque não podemos implantar as máscaras substituindo os adês, filás e coroas de metais, pois além de serem feitas e confeccionadas com elementos naturais, são de origem e tradição dos nativos Bantu.
Falarei um pouco sobre a confecção e fundamentos das máscaras de tradição Bantu.
Não são todas as tribos de origem Bantu, que fazem o uso das máscaras em seus rituais religiosos. Temos conhecimento que as tribos mais antigas a fazerem uso das máscaras são os Tchokwe, mas  as tribos Ambundo que são os atuais Angolanos e os Bakongo (Kongo) também as utilizam.
Quando nos referimos às questões das máscaras religiosas dos nativos Bantu, entramos numa questão séria, responsável, envolta em fundamentos e também num universo fascinante!
As máscaras são usadas pelos Bantu somente quando estão tomados em  possessão por seu Nkisi, elas não podem ser usadas de forma alguma pela pessoa sem que a mesma esteja virada (incorporada) em sua Divindade. Existem dois tipos de máscaras para cada Nkisi, uma é confeccionada para ser usada a partir da iniciação religiosa do indivíduo e sempre que estiver virado (incorporado) em sua Divindade, e a outra é confeccionada após a morte do indivíduo, e usada nos rituais fúnebres da pessoa, ou seja, as duas máscaras são usadas nas circunstâncias mais importantes da existência do indivíduo bantu, no seu nascimento (iniciação para seu Nkisi) e em sua passagem para o plano espiritual (morte do corpo físico).
As máscaras são elaboradas e confeccionadas em lugar próprio, chamado de Kubata Mukangila e seu encantamento é feito através de sacrifício animal.
O material natural que é usado em sua confecção é diferente para os Minkisi masculinos e para os Minkisi femininos, são usadas cascas de determinada árvore, que também existe no Brasil e faz-se o uso da cabaça também.
Cada Nkisi possui um determinado tipo de máscara, onde seu semblante representa o caminho do Nkisi, ou seja, o que o Nkisi representa para o ser humano, pois sendo a Divindade um elemento da própria natureza não tem forma e nem face humana e a máscara faz esse papel, por exemplo: a máscara de Nkosi, possui um semblante feroz, representando o leão, o guerreiro implacável em suas ferozes batalhas, já a de Mutakalambo, possui a característica do caçador, do astuto e assim por diante..... Representando para os homens os caminhos que cada Divindade representa no Universo!
A pintura das máscaras é feita com tinta vegetal e trazem através da pintura toda essa representatividade.
A máscara que é usada no ritual fúnebre do indivíduo não é feito nela, o encantamento através do sangue animal......... Ela é confeccionada somente após a morte do indivíduo e seu encantamento é feito através de folhas (Jinsaba) piladas, pena (Kisala) de determinada  ave, que são trituradas e queimadas e também são usados em seu encantamento determinados pós sagrados (Mafu) que são  ralados de algumas favas e sementes.
Após o término do ritual fúnebre, a máscara não acompanha o corpo no sepultamento, tendo em vista que ela será levada para uma palhoça (Kubata) especial, onde se cultuam os espíritos dos antepassados.
Todavia, não é necessário que se siga à risca, como é feito em África, a idéia que tento passar aos amigos e irmãos de Ngola e Kongo é que podemos usar as máscaras substituindo os adês, filás e coroas, pois além de não serem de nossas tradições e culturas, são elementos, em minha opinião, que não condizem com nossos Minkisi. Trata-se de uma questão individual, de gosto e de preferência de cada sacerdote.
(parte desse texto já foi postado por mim, em uma comunidade do orkut)


Falarei um pouco sobre os assentamentos......
Também foi implantado em nossa Mbutu (nação) as louças européias em nossos assentamentos (Jimbenge plural de Mbenge), que também foi uma implantação Nagô/Yorubá ocorrida aqui no Brasil, sendo que as louças são oriundas da Europa e não têm nada a ver com o culto aos Minkisi, pois o culto dos negros Ngola/Kongo Bantu, antecede a descoberta das louças, além de que se trata de uma visão machista do final do século XIX, associando às Divindades femininas com a mulher (pessoa/gente) e fazendo-se a ligação da mulher com a cozinha, razão pela qual encontramos pratos de louças e colheres de pau nos assentamentos.
Na África Bantu, a elaboração dos assentamentos são feitos com elementos naturais, ou seja, retirados da própria mãe natureza (Mam’etu Utukilu). Nossos assentamentos são elaborados no barro, em madeira e cabaças, forrados e cobertos com folhas (Jinsaba) conforme a Divindade que está sendo assentada.
É dispensável o uso de qualquer coisa que não seja  de origem natural, é usado o elemento ferro, em sua forma natural (pedra de ferro), não o forjado pelo homem.
Também é usado a pedra de raio, que é formada através da descarga elétrica natural (raio) ao tocar o solo, pois também sabemos que a cultura religiosa Bantu é muito anterior a descoberta do ferro, metais e latões.
Pergunto aos irmãos, se esses elementos como o prato, o ferro forjado, colheres de pau foram adaptados à religião aqui no Brasil, porque não podemos fazer uso em nossos assentamentos de elementos naturais que nos são dados pela própria criação de Nzambi Ampungu e também fazem parte verdadeira das tradições religiosas dos nativos Bantu??
Por todos esses anos, que nossas nações Ngola e Kongo viveram à sombra da cultura Nagô/Yorubá Ketu, perdemos muito. Hoje no Brasil, setenta por cento das casas de candomblé são de origem Nagô/Yorubá Ketu e muitas casas que se dizem Angola, na verdade são casas de Ketu com uma placa escrito Nação Ngola.
Não quero de forma alguma ser diferente e muito menos criar uma nova raiz, a minha luta e minhas pesquisas se dão a favor de um candomblé sem misturas, onde  em uma festa (Kizomba), as pessoas que adentrarem possam diferenciar de imediato se estão num culto de Ngola ou em um culto de Ketu.
Sei que se isso chegar a acontecer, será para gerações futuras e isso para mim é o que importa.


Makuiu a todos e meus sinceros respeitos


(texto disponível em:http://www.inzotumbansi.org/index.php?option=com_content&view=article&id=24:as-mascaras&catid=4:nsamu&Itemid=51)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

VERDADE


As crianças sempre me perguntam sobre este tema: a VERDADE. Ao terminar de contar histórias de determinadas religiões eles dizem:
"Mas professora, isso é verdade???"
Dia desses, estava contando sobre Brahma e Vishnu, quando um menino do quinto ano dispara:
"Mas, você acredita que isso é verdade profe?"
Na hora fiquei sem reação pois, não posso deixar que a minha fé interfira no meu trabalho e na forma como passo o conhecimento para meus alunos. No momento só me veio a cabeça a ideia de usar um exemplo para explicar. Então perguntei ao menino se ele sabia o que era uma pessoa daltônica, ele disse que sim.
"Os daltônicos não conseguem enxergar as cores: azul, amarelo e vermelho. Pra eles é cinza."
Seguindo o raciocínio dele peguei minha garrafa de água (ela é azul), e disse: Esta garrafa é azul, certo?
"Certo professora."
Então é verdade que a garrafa é azul.
"Sim é verdade profe."
Mas, digamos que eu tenho uma amigo daltônico. Ele entra na sala e diz que a minha garrafa é cinza. É verdade que a garrafa é cinza?
"Sim profe, pra ele a garrafa é cinza."
Nesse caso, quando pensamos em religião, ou em qualquer outra coisa, a verdade depende de quem a vê e acredita nela.


Isso aconteceu há mais ou menos duas semanas e, hoje quando eu estava lendo "O olho de vidro do meu avô" de Bartolomeu Campos de Queirós, me deparei com um trecho que descreve o que eu sinto com relação a palavra VERDADE:

"TENHO MEDO DA PALAVRA VERDADE. É TÃO CRUA. PARECE FEITA DE FACA. A PALAVRA VERDADE NÃO PERMITE O ERRO, DAÍ NÃO CONHECER O PERDÃO. A VERDADE, SE EXISTE, DEVE SER EXAGERADA DEMAIS. É MAIOR QUE O MAR. O MAR TEM MARGENS E A VERDADE NÃO. A VERDADE NÃO POSSUI FRONTEIRAS. A VERDADE NÃO PERMITE PERGUNTAS. A VERDADE É UMA RESPOSTA QUASE FALSA. (...)"

segunda-feira, 3 de junho de 2013

SUGESTÃO DE LEITURA


Pedro é um garoto esperto que ouviu falar muito de Deus e está convencido de que Ele deve morar em algum lugar. Mas onde? Ninguém em sua casa parece ter muita certeza. Então, Pedro começa uma busca por conta própria, lá fora. O que ele poderá descobrir?

MODA DAS CAVEIRAS - RUIM??? NÃO, DE FORMA ALGUMA!!!

Você já ouviu falar das caveiras mexicanas? São aquelas caveirinhas coloridas e enfeitadas e que muitas vezes dão origem a tatuagens.
Essas caveiras são parte da tradição do país, diferentemente do Brasil que tem o triste dia de finados (2 de novembro), o México celebra o Día de Los Muertos com muita festa, comidas, doces e homenagens aos mortos, que segundo a crença, vêm visitar seus parentes nessa data.
O ícone da festa é a Dama de la Muerte, Mictecacíhuatl, que atualmente é relacionada à personagem de José Guadalupe Posada, a La Catrina. O esqueleto enfeitado com chapéu e acessórios, que remetem à riqueza, é uma representação humorística sobre o fim da vida, e que diante da morte não importa classe social.
Por serem bonitas, coloridas e terem um bom significado, as caveiras mexicanas se popularizaram e foram ganhando gosto mundial, gerando tatuagens, objetos, ilustrações, etc. (http://uzinga.com.br/blog/2012/10/significado-caveiras-mexicanas/)

ALTERIDADE: DIFERENTES SIM, AMIGOS TAMBÉM!

Para realizar esta atividade as crianças deverão ter em mãos lápis e papel. A tabela abaixo pode ser entregue pronta (impressa) ou confeccionada pelos alunos. Cada criança deverá escolher alguns colegas de classe para entrevistar, conforme o roteiro abaixo:

NOME
COMIDA PREFERIDA
BRINCADEIRA PREFERIDA
TRADIÇÃO RELIGIOSA





















Após o término das entrevistas o professor poderá confeccionar, com os alunos um gráfico. Minha sugestão (a forma como eu realizei) é que as crianças respondam, em seus cadernos, as seguintes questões:

1. AS RESPOSTAS FORAM TODAS IGUAIS?

(   ) SIM                                                                (   )NÃO

2. TODOS OS SEUS COLEGAS PARTICIPAM DA MESMA TRADIÇÃO RELIGIOSA?

(   )SIM                                                                   (   ) NÃO

3. O FATO DE VOCÊ E SEUS COLEGAS FAZEREM PARTE DE RELIGIÕES DIFERENTES ATRAPALHA SUA AMIZADE E SUAS BRINCADEIRAS?

(   )SIM                                                                 (   )NÃO

Após responderem as questões devemos dar abertura ao debate e conversar sobre a necessidade de respeitar e conhecer a religião do colega a fim de criar um ambiente de convivência agradável e consciente.







Obs.: Apliquei esta atividade em quatro turmas de terceiro ano e, como sempre, a maturidade com que as crianças tratam deste assunto é surpreendente. Estamos criando vínculos de respeito e tolerância, cada vez mais fortes.

O TIGRE E O LEÃO

Uma vez, havia um leão e um tigre que moravam numa floresta tranqüila. Eles se conheceram quando eram muito novos e não sabiam a diferença entre os leões e os tigres. Então, eles se tornaram bons amigos.
Um dia, o leão e o tigre brigaram. O tigre disse:
— Todo mundo sabe que o frio chega quando a Lua Cheia vira Lua Nova!
E o leão disse:
— Onde você ouviu essa bobagem? Todo mundo sabe que o frio chega quando a Lua Nova vira Lua Cheia!
O leão e o tigre continuaram brigando. Como não sabiam quem estava certo, eles foram perguntar a resposta correta a um monge muito sábio e gentil que morava na floresta.
O leão e o tigre cumprimentaram o monge e perguntaram quando é que o frio chega. O monge pensou e então respondeu:
— Pode fazer frio em qualquer fase da Lua, desde a Lua Nova até a Lua Cheia.
É o vento que traz o frio do norte, do sul, do leste ou do oeste.
Então, vocês dois estão certos! E nenhum de vocês foi derrotado pelo outro.
A coisa mais importante é viver sem brigar.
O leão e o tigre agradeceram ao sábio monge. Eles ficaram felizes porque continuaram sendo amigos.
O tempo vem e vai, mas a amizade permanece.
(de Contos Budistas Para Crianças)

sábado, 1 de junho de 2013

A LENDA DO BAOBÁ



Quando Deus estava a criar o mundo, fez uma árvore grande e robusta, deu-lhe o nome de BAOBÁ. Continuou trabalhando na criação mas, seu sossego acabou. O baobá se achava no direito de dar palpites em tudo o que o Criador estava fazendo. De início, Deus não deu muita bola para o palpiteiro. Mas, com o tempo as críticas foram aumentando e irritando o soberano de tal forma que, num momento de fúria Deus arrancou a árvore da terra e enfiou-a de cabeça pra baixo na terra.
É por isso que o baobá é assim, como se tivesse as raízes para cima.