sexta-feira, 22 de abril de 2016

22 de abril é DIA DA TERRA



Desenvolver a consciência ecológica de seus seguidores 
Texto extraído do blog: http://ecologiaefe.blogspot.com.br/2010/11/tarefas-das-religioes-para-ecologia-1.html
Traçando as coordenadas cósmicas e terrenas do ser humano, as religiões cumprem uma função pedagógica: situam a pessoa “dentro” e “em relação” com o universo, o planeta, com a vida enfim. Inserir as pessoas nesta relação é um processo educativo. A vida (mineral, vegetal, animal e sideral, com suas múltiplas imbricações) se afirma como peça irrenunciável do cenário religioso. Aliás, o cenário religioso é o próprio cenário vital, enquanto lugar de manifestação do sagrado. Assim, o religioso dimensiona o físico e o biológico, o terrenal e o sideral, o espacial e o cronológico, ampliando a percepção da realidade e ajudando o ser humano a “dizer-se” no mundo.
Nisto constatamos a irradiação numinosa do sagrado, que se mostra e se esconde nas coisas, inserindo-se e superando a natureza, mas nunca ignorando ou desrespeitando-a. Quando uma religião inclui no cenário hierofânico o sujeito humano, educa-o à relação com o sagrado, que, por sua vez, se manifesta na natureza.
O sol, a lua e os planetas; as florestas, cavernas e montanhas; o voo da águia e a brandura do cordeiro; a semeadura e a colheita; o pão, o vinho e o mel; o óleo e o fogo que crepita: tudo isso é sagrado aos olhos do Homo religiosus, porque tudo isso sustenta a vida presente e futura.
Inserir-se na natureza, relacionando-se por ela com o sagrado, é fonte de consciência e valoração da própria humanidade e das demais criaturas. Temos, assim, uma consciência ecológica de raiz “religiosa” — no duplo aspecto de religar imanência e transcendência (religare) e reler a realidade à luz do sagrado (relegere).
Muitos autores acreditam que este olhar sagrado sobre si mesmo e a natureza contribui para o crescimento da consciência ecológica das pessoas. Diante do desmatamento, da escassez de água e do envenenamento do ar, a consciência religiosa pode converter-se em consciência ecológica. Quando um sujeito considera sagradas as florestas, supõe-se que mais se indignará com o desmatamento irracional.
Quanto mais a água for sagrada para um povo, mais deverá ser mantida limpa. Nas culturas a religião informa a ecologia; a ecologia informa a religião. Pois a consciência ecológica de fundo religioso supõe uma oferta anterior da natureza à religião. É uma construção dialógica, em oferta recíproca: a natureza se oferece na sacralidade; a sacralidade se oferece na natureza. Nesse sentido as concepções de sacralidade podem contribuir para que o ser humano participe responsavelmente do diálogo entre religião e natureza, como hermeneuta (sujeito que interpreta o sagrado na natureza), parceiro (que se põe do lado da vida, irmanado com as criaturas), ou jardineiro (que cultiva a vida pela aplicação diaconal de sua inteligência e habilidades).
Observamos ainda que a participação da pessoa nesse diálogo corresponde a uma antropologia, a uma visão de humanidade que existe na, com a da Natureza(= consciência antropológica), ainda que o ser humano se veja distinto das demais criaturas por sua racionalidade (= consciência espiritual). Afinal, distinção significa peculiaridade (biológica, moral ou ontológica), mas não implica necessariamente divisão e muito menos oposição.
Em muitas tradições religiosas a distinção do ser humano em face das demais criaturas só aumenta a sua dependência, reciprocidade ou responsabilidade por elas. As religiões trazem consigo uma antropologia de tipo eco-religioso, pois insere o ser humano no diálogo entre o sagrado e a natureza, definindo seu lugar e sua responsabilidade entre, com e diante das criaturas. Isso se verifica nas tradições abraâmicas (Francisco de Assis, Hildegard de Bingen, Teilhard de Chardin), hindoorientais (Trimurti, Krishna, Buda) e afro-brasileiras (orixás da Natureza).















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