Cleyde Rodrigues
Amorim
Eronildo José Silva
O Sagrado, o
Pensamento Religioso
A busca de respostas
para o inexplicável a partir de um pensamento simbólico e religioso pode ter
origem nos primeiros humanos. Pesquisas arqueológicas levantam a hipótese de
que nossos ancestrais da pré-história já estariam representando símbolos
religiosos em suas
pinturas rupestres (em cavernas e rochas), datando de, pelo menos,
10.000 anos a.C. Apesar de não se saber ao certo quando surgiu o pensamento
simbólico e religioso, a concepção da existência do sagrado acompanha a
condição humana desce muito cedo. Por que? Porque nós somos animais com
consciência da transitoriedade por este mundo, o que, aliado à capacidade de
simbolização e inteligência humana, nos faz procurar por alternativas à
precariedade de nossa condição física e emocional, diante dos desafios a que
somos submetidos. Temos a capacidade de produzir símbolos, representações, a
partir da realidade vivida ou imaginada. Se na pré-história os desafios eram
mais materiais e vinculados à sobrevivência física (obtenção de alimentos,
proteção contra outros animais e contra as intempéries da natureza), hoje,
apesar do desenvolvimento tecnológico, enfrentamos desafios também difíceis
e as angústias humanas não cessaram, por isso continuamos produzindo
respostas a elas.
Segundo um dos
primeiros estudiosos sobre religiões, Émile Durkheim (1989), não há
religiões que sejam falsas. Todas são verdadeiras à sua maneira: todas
respondem, ainda que de maneiras diferentes, a determinadas condições da
vida humana. (idem, idem: 31). Por isso, todas são comparáveis.
Assim, os sistemas de crenças e dos cultos apresentam representações
fundamentais e atitudes rituais que, apesar da diversidade, caminham para o
mesmo significado objetivo, e exercem as mesmas funções, e são estes
elementos que constituem o que existe de permanente na religião (idem, idem:
33).
Assim este autor
demonstra que os principais sistemas de representações que o homem produziu
do mundo e de si mesmo, como as noções de tempo, espaço, de gênero, de
número, de causa, de substância, de personalidade, etc. são de origem
religiosa.
Na Antiguidade, as
religiões assumiam papéis importantes, regulando condutas, ética e moral,
legislando, educando, ou seja, cumprindo funções de diferentes instituições
que temos hoje.
Para se pensar sobre
as religiões é necessário ter em mente que elas se estruturam sobre um
pensamento religioso, sobre símbolos sagrados e se efetivam através de
rituais religiosos. Para que o pensamento sagrado se transforme em ação é
necessário que siga uma série de procedimentos mágicos por meio dos quais se
acredita operar a alteração da realidade, do imediatamente visível, no plano
simbólico. Estes procedimentos são os rituais que podem contar com diversos
elementos: a expressão verbal (pronunciar palavras, o canto de hinos,
mantras), a expressão corporal (gestos, imposição de mãos, danças e
performances), a manipulação e/ou ingestão de líquidos (água, vinho, poções
com ervas), alimentos e outros elementos a que se atribui uma força, uma
energia, um poder que está, naquele momento acompanhando tais elementos ou é
a essência deles (a força vital, o axé, o mana). O que transforma todos
esses elementos e procedimentos em sagrados é o pensamento sagrado, expresso
pela fé, pela crença. Tal pensamento simbólico também envolve a sacralização
e profanização de lugares reais (céu, matas, rios) ou imaginários (céu,
inferno, éden, etc). Os lugares imaginários partem em geral de concepções
mitológicas, envolvendo noções e conceitos fundamentais para as crenças
religiosas. Os lugares reais onde as ações religiosas se desenvolvem também
têm uma forte dimensão simbólica, e é por serem considerados ideais ou
ritualmente preparados para esse fim que tornaram-se sagrados. É o caso dos
locais de culto, onde são feitas as atividades religiosas, os rituais
(templos e outros lugares onde se processam os ritos). Os rituais religiosos
envolvem a magia, presente em todas as religiões. É através da magia que
determinados elementos e objetos adquirem caráter sagrado ou tornam-se
sagrados (imagens, mantos, alimentos, bebidas e outros) fazendo com que
sejam sempre necessários ao ritual. Para Durkheim,
as representações
religiosas são representações coletivas que exprimem realidades coletivas;
os ritos são maneiras de agir que surgem unicamente no seio de grupos
reunidos que se destinam a suscitar, a manter, ou a refazer certos estados
mentais desses grupos (idem:38).
Por que saber
sobre religiões?
Além das questões
colocadas acima, ou seja, da importância do pensamento religioso para
entender como a humanidade pensa e se organiza,
é sabido que
cerca de 85% dos conflitos e guerras que acontecem no mundo são motivados
por razões étnicas e/ou religiosas. Sabemos também que a intolerância se
alimenta da ignorância e do etnocentrismo. Para tentar minimizar esta
questão segue uma apresentação breve, iniciando pelas primeiras religiões
conhecidas, seguindo-se pelas grandes religiões que se espalharam e pelo
planeta e das quais derivaram-se muitas outras.
O
TOTEMISMO, O ANIMISMO E O XAMANISMO
As primeiras formas
religiosas estudadas são o totemismo, o animismo e o xamanismo.
Em termos gerais, o
totemismo parte da crença na existência de um relações particulares, vínculo
de afinidade, ancestralidade ou parentesco de um grupo de pessoas, de uma
tribo ou clã com uma espécie determinada de coisas materiais – os totens. Os
totens podem ser animais, elementos da natureza ou objetos criados para
representar esses elementos. É a crença na existência do sagrado que faz com
que o grupo atribua forças mágicas e sobrenaturais ao totem e também crie
tabus quanto à sua ingestão (no caso de animais e plantas), manipulação
(criando a proibição de ações e usos), e contaminação (distinguindo o estado
de pureza e agindo contra a impureza por meio de rituais de purificação).
Segundo Durkheim, O
animismo
tem por objeto os seres espirituais, os espíritos, almas, gênios, demônios,
divindades, agentes animados e conscientes como o homem, mas que se
distinguem dele pela natureza dos poderes que lhe são atribuídos e pela
característica particular de não afetar os sentidos da mesma maneira:
normalmente são perceptíveis ao olho humano (idem, idem: 80).
Não se
sabe ao certo se o animismo seria a religião mais primitiva, ou se ela teria
derivado do culto da natureza (naturismo). Ambas estariam na base do que
hoje se conhece como Xamanismo que se configura como prática religiosa
envolvendo a magia, a cura, e a relação com seres míticos e sobrenaturais,
representados por espíritos ou almas. Por apresentar semelhanças com as
práticas religiosas dos indígenas brasileiros, o Xamanismo é frequentemente
associado à pajelança, pois ambos se realizam a partir da presença de um
sacerdote incumbido de realizar curas e males físicos ou de outras origens -
o Xamã e o Pajé.
Estima-se que
existiam Brasil, até da chegada dos colonizadores europeus, cerca de cinco
milhões de indígenas. E, do que se pode investigar sobre suas religiões, há
algumas características gerais que seriam mais freqüentes, como o culto à
natureza deificada, a existência do pajé com poder de cura e acesso ao mundo
dos mortos, a antropofagia e o uso de adornos, instrumentos mágicos e
fumaça, com função ritualística. Acredita-se que mesmo convertidos, os
índios não abandonaram suas crenças, o que fez com que a conversão tolerasse
ou mesmo incorporasse elementos das religiosidades indígenas, fazendo surgir
manifestações religiosas como a “santidade”, no séc. XVI.
Na
Pajelança, o sacerdote se utiliza de diversos elementos para as práticas
mágicas e terapêuticas:
instrumentos
musicais (maracá, zunidores) para captura e afastamento de espíritos
malignos, tabus e restrições sociais e alimentares, além de uma série de
práticas terapêuticas que incluem: o uso do tabaco (cachimbos) e outras
plantas psicoativas, fumaça/ defumação, manipulação do corpo do doente com a
imposição de mãos, fricções, extração da doença por sucção/ vômito,
escarificação no corpo do doente com dentes de animais ou fragmentos de
cristais.
Atualmente,
mesmo entre tribos que já tem bastante contato com os não-índios, sobrevivem
as práticas religiosas tradicionais que, em muitos casos associam elementos,
religiosos ou não, de outros grupos com os quais convivem (medicamentos e
outros processos de cura).
AS RELIGIÕES MAIS
CONHECIDAS NO MUNDO
ISLAMISMO
O Islamismo é uma das
grandes religiões do mundo atual, foi fundada por Mohammad (Maomé) no
século VII d.C. Os adeptos da religião Islâmica são chamados de Muçulmanos
os quais acreditam que só existe um único deus que é Allah, e
Mohammad é seu profeta.
A palavra Islamismo
procede de Islã, que significa submissão a Deus; a expressão
Muslin (muçulmano) designa o crente ou fiel, ou seja, aquele que submete
(a Deus).
Mohammad nasceu na
cidade de Meca no ano de 570. Filho de uma família de comerciantes passou
parte da juventude viajando e conhecendo diferentes culturas e religiões.
Com 25 anos casa-se com a viúva que o havia contratado para conduzir suas
caravanas.
Com o casamento
Mohammad ganhou prestígio e riqueza dando-lhe tranqüilidade material. Mesmo
desenvolvendo as atividades profissionais paralelamente começou a fazer
retiros espirituais sendo que em um deles aos 40 anos de idade recebe a
visita do anjo Gabriel que lhe transmitiu a existência de um único Deus e os
princípios básicos da religião Islâmica. “Mohammaad tinha que guardar na
memória as orientações divinas, pois não sabia ler nem escrever. Valer
lembrar que ‘o analfabetismo abrangia quase a totalidade da população’”
(SOUZA, 2001:54).
A partir da revelação,
começa sua fase de pregação da doutrina monoteísta, na cidade de Meca, local
controlado pela tribo Coraixita a qual era guardiã da Caaba
(local onde está a pedra que Allah enviou do céu), porém encontra grande
resistência e oposição dos comerciantes, pois as tribos árabes adeptos da
religião politeísta, adoravam vários deuses tribais e a cidade de Meca era
um centro de homenagem a esses deuses com um grande fluxo de pessoas.
Em Meca os comerciantes
aproveitavam este fluxo para comprar e vender e, portanto não aceitavam a
pregação de Mohammad que os deuses eram falsos ídolos e que só existia um
único Deus.
No ano de 622 em função
das perseguições teve que emigrar para a cidade de Yatrib. Nessa
cidade Mohammad consegue apoio em função das tribos serem rivais dos
Coraixitas. Este acontecimento é conhecido como Hégira e marca o início
do calendário muçulmano. Em Yatrib a religião muçulmana se consolidou
e a cidade passou a se chamar Medina (cidade do profeta).
Nessa época pregava que
o islamismo deveria triunfar por meio da Guerra Santa (Djihad) e foi
assim que no de 630 Mohammad atacou e conquistou a cidade de Meca. Após a
conquista ordenou a destruição de todos os ídolos da antiga religião
politeísta, preservando apenas a Caaba.
A guerra não é um
objeto do Islão, nem a acção normal dos muçulmanos. É só uma solução última,
utilizada nas circunstâncias mais extraordinárias, quando todas as outras
medidas fracassam. Este é o verdadeiro estatuto da guerra no Isão. O Islão é
a religião da paz: o seu significado é paz; um dos nomes de Deus é paz; a
saudação diária dos muçulmanos é paz; o paraíso é a casa da paz; o adjetivo
<muslin-muçulmano> quer dizer <pacifico>. A paz é natureza, o significado, o
estandarte e o objetivo do Islão. (ABDALATI, 1989:229)
A religião Islâmica
criada no século VII teve um papel fundamental, pois representa a união
política e a criação do mundo árabe onde todas as tribos se uniram em torno
de um ideal comum, a religião.
Após a morte de
Mohammad, dois grupos se formaram no Oriente Médio: os xiitas e o
sunitas. São chamados de xiitas aqueles que seguem o Alcorão ao
pé da letra, são mais rigorosos e defendem uma forma governo extremamente
rígida enquanto os sunitas além do alcorão seguem também o Sunna,
livro em que estão registrados as idéias e atos do profeta sendo mais
moderados e flexíveis.
Os Sunitas eram
partidários de um chefe de Estado eleito pelos crentes e sustentavam que o
Sunna, livro dos ditos e atos de Maomé, era uma importante fonte de
verdade para o islamismo. Os xiitas, por sua vez, defendiam um ideal
absolutista de Estado, tendo como chefe religioso e político um descendente
do Profeta, só admitindo o Corão como fonte de ensinamentos.
(VICENTINO,1997:120-121)
O livro sagrado para os
muçulmanos é o Alcorão ou Corão, livro que reúne as revelações que Mohammad
recebeu do anjo Gabriel.
O Alcorão também
registra tradições religiosas, passagens do Antigo Testamento judaico e
cristão. Os muçulmanos acreditam na vida após a morte e no Juízo Final, com
a ressurreição de todos os mortos. A outra fonte religiosa dos muçulmanos é
a Suna que reúne os dizeres e feitos do profeta.
Os preceitos religiosos
que todo mulçumanos deve praticar são: crer em Alá como seu único Deus e
Mohammad como mensageiro de Deus; fazer cinco orações diárias curvado em
direção a Meca; pagar o zakat (contribuição para ajudar os pobres);
fazer jejum no mês de Ramadã (nono mês do calendário muçulmano)
e peregrinar para Meca pelo menos uma vez na vida.
Deus prescreveu estas
práticas de maneira a servirem os fins espirituais e satisfazerem as
necessidades. Algumas destas práticas devem fazer-se diariamente; outras,
uma vez por semana; outras são anuais; e outras exigem-se pelo menos uma
vez na vida. Portanto, elas abrangem todos os dias da semana, todas as
semanas do mês, todos os meses do ano e todos os anos da vida e, o que é
mais importante, marcam a vida de cada ser com um toque divino, se ele
cumpre o que Deus prescreveu. (ABDALATI, 1989:93)
JUDAÍSMO
Na antiguidade
ocidental a maioria das manifestações religiosas eram politeístas
(existência de vários deuses). A primeira religião considerada monoteísta
(existência de apenas um Deus) é o judaísmo. De acordo com o judaísmo o povo
Hebreu foi escolhido por Deus prometendo-lhes a terra prometida. Atualmente
a fé judaica é praticada em várias regiões do mundo, porém é no estado de
Israel que se concentra um grande número de praticantes.
Os livros sagrados para
os judeus são chamados de Tanach (Bíblia judaica) registram a
histórias do povo Judeu (parte esta no Antigo Testamento). Nestes livros
estão a criação do mundo (Gênesis), o Êxodo, a formação do Reino de Judá,
sua divisão, as sucessivas ocupações, a expulsão da Palestina entre outras
informações. (CISALPINO, 1994:52)
O Tanach é
composto pela
Tora
(leis), Neviim
(profetas), Ktuvim (escritos: Salmos, Provérbios e o Livro de Jó), as
cinco Meguilot (Cânticos dos Cânticos, Ruth, Lamentações,
Eclesiastes, Ester) e os Livros históricos (Daniel, Esdras, Neemias,
Crônicas I e II).
Além do Tanach
existe o Talmude, livro que reúne muitas tradições orais e é dividido
em quatro livros: Mishnah, Targumin, Midrashim e
Comentários. Neles estão contidos as regras básicas e as orientações aos
fiéis sobre higiene e limpeza, casamento, contribuições financeiras,
sacrifício de animais, alimentação e festividades.
Os cultos judaicos são
realizados num templo chamado de sinagoga e são comandados por um sacerdote
conhecido por rabino. Nas sinagogas, existe uma arca, que representa a
ligação entre Deus e o povo Judeu. Nesta arca são guardados os pergaminhos
sagrados da Torá.
Os homens judeus
usam a kippa, pequena touca, que representa o respeito a Deus no
momento das orações.
A história do povo
Hebreu é datada de 1.800 a.C. quando Abraão recebe um sinal de Deus para
abandonar o politeísmo e adotar o monoteísmo e determina que eles devam
partir em busca da terra prometida chamada Canaã (atual Palestina).
O episódio da saída das
tribos hebraicas do Vale Ur em busca da “Terra Prometida” inaugura, por
assim dizer, o fenômeno da união de povos pela força em um deus único. A
afirmação de que todas as tribos hebraicas, que viviam de forma bastante
autônoma até então, deveriam unir-se e empreender uma longa jornada em nome
da vontade de Deus é, sem dúvida, um momento marcante do monoteísmo.
(CISALPINO, 1994:51)
Segundo a história Isac,
filho de Abraão tem filho chamado Jacó que por ordem de Deus muda seu nome
para Israel. Jacó (Israel) teve 12 filhos e dos quais darão origem as 12
tribos que vão formar o povo Judeu. Por volta de 1.700 o povo Judeu migra da
Palestina para o Egito.
Em sua estada no Egito
são escravizados pelos faraós. A escravidão dura aproximadamente 400 anos
quando Moises comanda a fuga (êxodo) do povo Hebreu para a atual Palestina.
O período de retorno dura 40 anos e é durante este período que Moises recebe
a revelação dos 10 mandamentos.
O judaísmo começa com
Abrão que parte de Ur da Caldéia, na Babilônia, para Canaã e depois para o
Egito, por volta de 1700 a.C. São tidos como patriarcas Abraão e Isaac e
Jacó. Jacó estabeleceu-se no Egito e seu filho José se torna primeiro
ministro do Faraó. Mais tarde, oprimidos, constrangidos ao penoso trabalho
de fabricar tijolos para construções reais, os israelitas fugiram, guiados
por um deles, Moisés. Penetram no deserto onde viveram 40 anos. Chegados ao
Sinai Moisés recebeu de Deus a Lei, o Decálogo. (WILGES, 1982:52)
Ao se fixaram na
Palestina após o êxodo, os Hebreus alteram a sua forma de organização nômade
para uma fixa e coletivista. Em função das conseqüentes disputas com outros
povos (cananeus, moabitas, meianitas, amalicitas, amonitas) que já habitavam
o local os Hebreus necessitam de chefes com capacidade de unir o
povo em torno de um objetivo comum. Esses chefes eram chamados de juízes os
quais eram escolhidos pelo seu prestigio no campo militar, político e
religioso. (NADAI, 1987:60)
Com a chegada dos
filisteus na Palestina uma nova forma de organização foi adotada para
combater o invasor. Implantou-se uma monarquia que possibilitasse a união
das 12 tribos que na verdade era a união territorial. O primeiro Rei foi
Saul, no entanto quem fez a monarquia se tornar unitária de fato foi Davi.
Davi foi responsável por conquistar o território palestino organizando um
exercito permanente, constituído por mercenários. Tornou Jerusalém a capital
e organizou a administração. (NADAI, 1987, 61)
Seu sucessor foi
Salomão. No reinado de Salomão foi um período de ambulante riqueza,
principalmente na capital. Com a sua morte encerrou a monarquia unitária e o
reino foi dividido em dois: Reino de Judá e Israel. Começa uma longa
história de enfraquecimento político.
Ao longo dos séculos os
Hebreus foram dominados por vários povos assírios, egípcios, babilônios,
persas, macedônios, selêucidas e finalmente pelos romanos.
A primeira diáspora
judaica ocorre com a invasão babilônica em 721. O imperador babilônico
destrói o templo de Jerusalém e deporta grande parte da população judaica.
A segunda diáspora
ocorre no século II d.C. com os romanos que destróem a cidade e provocam a
saída dos judeus para diversas partes do planeta. Embora estando espalhados
pelo mundo os Judeus preservaram a sua cultura e religião e em 1948, o povo
Judeu retoma o caráter de unidade após a criação do estado de Israel.
CRISTIANISMO
O cristianismo nasceu
na Palestina, que fica no Oriente Médio correspondendo hoje ao Estado de
Israel. Nessa região vivia o povo Judeu (Hebreu) e era dominada pelos
romanos. A raiz do cristianismo está alicerçada no judaísmo, por isso é
comum se falar em religião judaico-cristã.
De acordo com a
religião judaica e as profecias, nasceria um descendente do Rei Davi o qual
seria o Messias libertador e restaurador do Reino de Israel. Foram muitos
que declararam ser o Messias, mas só um conseguiu provocar um impacto
histórico e cultural no ano I, Jesus Cristo.
O Cristianismo surgiu
no século I da Era Cristã, com Jesus e um grupo de pessoas, na maioria
judeus da Galiléia (Norte de Israel). Eles seguiam a Jesus e ele lhes
ensinava a lei do amor e a Boa Nova (o anúncio da salvação). Surgiu, assim,
como “um movimento de pobres”, como uma associação de pessoas humildes (os
apóstolos e os discípulos) que proclamavam Jesus como o verdadeiro Messias
prometido no Antigo Testamento. O Cristianismo, destarte, é religião fundada
em Jesus Cristo, sob as bases do judaísmo, e bastante preocupada em realizar
a fraternidade entre as pessoas. (SOUZA,2001:47)
Acredita-se que Jesus
Cristo nasceu numa família judaica e pobre. Seu pai, José, era carpinteiro.
Durante a sua vida, Jesus viveu sempre em companhia de pessoas pobres, não
discriminava ninguém, nem ladrões, pessoas com doenças contagiosas (lepra)
ou mesmo as prostitutas.
Sobre a juventude de
Jesus nada se sabe, o que se tem informação é que com 30 anos de idade ele
iniciou as suas pregações na Palestina. Anunciava que era o Messias tão
esperado pelos Judeus. As suas mensagens não eram apenas destinadas ao povo
judeu, mas a todos os homens de fé e boa vontade. Pregava que seu reino não
era o da terra, mas o do céu, em função de ser filho de Deus.
Seus ensinamentos
agradavam as pessoas excluídas e oprimidas, o que gerava irritação a muitas
pessoas poderosas que controlavam o poder local, principalmente as
autoridades judaicas que o consideravam um apóstata (abandono da fé uma
igreja).
A mensagem de
Jesus quebrava a essência do Império Romano ao separar a fé e o Estado na
frase “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Não podemos
afirmar que os cristãos constituíam um perigo para o Estado, no entanto
podemos dizer que introduziam uma nova visão da política, que deveria
aparecer como subersiva às autoridades imperiais. (MELO&PIRATELI, 2006:38)
Tendo uma grande
rejeição das autoridades, Jesus Cristo, foi traído por um de seus apóstolos,
conhecido como Judas. Foi preso e condenado à morte por crucificação por
volta no ano 30 ou 32 da nossa era.
Seus
seguidores enfrentaram dura oposição político-religiosa, tendo sido
perseguidos e martirizados, pelos líderes religiosos judeus, e,
principalmente, pelo Estado Romano.
O
cristianismo manifestava, em sua visão de mundo, dois elementos que o
distanciava do mundo cultural romano. O primeiro trata-se de uma distinção
entre religião e política, ou seja: não reconhecia o imperador como chefe
supremo da religião (a autoridade civil perdia a sacralidade que lhe dava
plenos poderes nos campos religioso e político). O segundo refere-se à
reinvindicação da liberdade de consciência no relacionamento com Deus. Os
cristão foram os primeiros a defenbder a liberdade de conciências e a
laicidade do Estado ( a recusa de culturar o imperador era apenas
consequência de uma questão mais ampla). MELO&PIRATELI, 2006:38)
Os princípios básicos
do Cristianismo são: crença em um único Deus (monoteísmo), igualdade de
todos perante Deus (caráter universal), amor ao próximo, crença da
ressurreição dos corpos e no julgamento final e a certeza da salvação para
todos aqueles que cumprirem os mandamentos da fé.
A história de Jesus e a
sua doutrina então contida no livro chamado Novo Testamento distribuído em
quatro evangelhos (Lucas, Marcos, Mateus e João), os quais foram escritos
entre os anos 70 e 90. Todas as informações contidas nestes evangelhos foram
recolhidas das tradições transmitidas oralmente pelas primeiras comunidades
cristãs.
Os principais
divulgadores da doutrina cristã após a morte de Jesus Cristo foram os
apóstolos
em função de serem as principais testemunhas da vida de Jesus e seus
ensinamentos e partiram para pregar a nova mensagem circunscrita
inicialmente apenas para o povo Judeu.
No entanto a
expansão do cristianimo fora do mundo Judeu deve ser creditada a
Paulo de Tarso.
Tarso nasceu
no inicio do século I e quando se encontrava em missão anticristã, Cristo
apareceu-lhe no caminho de Damasco. Após este encontro se converteu e
tornou-se o ‘apóstolo dos gentios’, empreendendo longas viagens pela Ásia
Menor, Chipre, Grécia, Macedonia e Roma. Morreu mártir entre 62 e 64. Sua
cartas representam o documento mais antigo e mais importante da igreja
primitiva, refletindo as crises do cristianismo nascente. (NADAI, 1987:163)
Com isto a doutrina
cristã espalhou rapidamente pela Ásia, Europa e África, principalmente entre
a população mais simples e carente, pois eram mensagens de paz, amor e
respeito. A religião fez tantos seguidores que no ano de 313, da nossa era,
o imperador Constantino concedeu liberdade de culto. No ano de 392, o
cristianismo é transformado na religião oficial do Império Romano.
A Bíblia é o livro
sagrado para os cristãos e está divida em duas partes; Antigo e novo
testamento. Na primeira parte é contada a criação do mundo, as tradições
judaicas, as leis, a vida dos profetas e vinda do Messias e na segunda parte
trata exclusivamente sobre a vida do Messias. Os cristãos têm como
principais festas religiosas: Natal (nascimento de Jesus), Páscoa
(ressurreição de Cristo) e Pentecostes (descida e unção do Espírito Santo
aos apóstolos).
Por divergências
culturais, políticas e teológicas, o cristianismo sofreu várias divisões. Em
431 surge a Igreja Síria Oriental, em 451 a Igreja Copta Ortodoxa e Igreja
Síria Ortodoxa. Em 1054 ocorre um grande cisma (divisão) da Igreja. A igreja
ocidental Romana ficou com o nome de Católica e a Igreja oriental Bizantina
como ortodoxa.
No século XV nova
ruptura ocorre, surgindo a reforma protestante. Surge a Igreja Luterana,
Presbiteriana (calvinista) a qual posteriormente se divide em Presbiteriana
Independente, Presbiteriana do Brasil, Presbiteriana Conservadora,
Presbiteriana Fundamentalista, Presbiteriana Renovada e Presbiteriana Unida
do Brasil e a Igreja Anglicana. A igreja Batista surge no século XVII e no
século XVIII a Igreja Medotista e Adventista. No século XX surge um
movimento de renovação na Igreja com objetivo de despertar o entusiasmo
religioso. Esse movimento é conhecido como Pentecostalismo.
Costuma-se classificar
as Igrejas Pentecostais em: clássicas (Assembléia de Deus, Congregação
Cristã do Brasil) e pentecostais da segunda geração (Igreja do Evangelho
Quadrangular, Brasil para Cristo) e Neopentecostais (Nova Vida, Deus é Amor,
Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Luz do Mundo,
Volta de Cristo, Maranata, Sara Nossa Terra, Renascer em Cristo entre
outras).
Também fazem parte
outras igrejas de inspiração cristã (Testemunhas de Jeová, Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmon) e Católica Apostólica
Brasileira).
Segundo João Décio
Passos em sua obra “Pentecostais – origens e começo”, a história do
pentecostalismo pode ser dividida em três fases distintas:
Outros dividem a
história em três fases distintas, marcadas por contextos históricos
específicos, dos quais decorrem formações religiosas diferentes. Paul
Freston utiliza o termo onda para designar essas fases: 1ª onda, que vais da
fundação à década de 1950 (igrejas Assembléias de Deus e Congregação Cristã
no Brasil); 2ª onda, da década de 1950 à década de 1970(inúmeras
denominações, sendo as mais expressivas a Evangelho Quadrangular; O Brasil
para Cristo e Deus é Amor); 3º onda, da década de 1970 a nossos dias (Igreja
Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça, Renascer em
Cristo e Sara nossa Terra são as principais) representantes). (PASSOS,
2005:54)
XINTOÍSMO
Os dois principais
livros que retratam a história do Xintoísmo são: Kojiki (anais das
coisas antigas, de 712 a.C.) e o Nihongi (crônicas do Japão, de 720
a.C.). Estes dois livros retratam a origem do Japão e dos deuses que fazem
parte da cultura japonesa. O xintoísmo não teve um fundador, ele surge no
Japão por volta do ano 500 a.C. com ritos e práticas simples, sem código
moral, sem mandamentos e sem instituição.
Segundo o xintoísmo
todas as coisas e todos os seres foram criados pelos deuses, bem como todas
as ilhas que compõem o Japão.
A palavra Shintó
que dá origem ao termo xintoísmo significa o “caminho dos deuses” e demarca
a oposição entre xintoísmo e o caminho de Buda.
Para os xintoístas os
mortos se tornam deuses e seus espíritos (os kamis) passam a ter uma
grande representação para os vivos, por isso o culto dos antepassados é um
dos rituais de grande significação para os japoneses. (WILGES, 1982:37-38)
O Xintoísmo enquanto
religião se tornou tão importante que o imperador construiu no Palácio
Imperial um santuário, onde se venera a deusa solar, os antepassados do
imperador e os kami de todo o povo japonês. Atualmente pelo seu valor
histórico e religioso é considerado o santuário mais importante do Japão. A
religião Xintoísta por longos anos foi a religião oficial no Japão, só após
a segunda guerra mundial que deixou ser oficial dando liberdade de cultos as
todas as outras religiões.
Das doutrinas Xintoísta
e Budista direta ou indiretamente surgiram novas religiosas que hoje são
chamadas de novas religiões japonesas. Estas novas religiões se propagaram
por vários países, inclusive o Brasil.
No Brasil as novas
religiões japonesas que aqui chegaram, vieram através dos imigrantes
nipônicos que desembarcaram no Brasil. Inicialmente restritas apenas aos
integrantes da comunidade nipo-brasileira, tais religiões - pelo menos,
parte delas experimentou uma importante expansão entre pessoas sem
ascendência japonesa a partir dos anos 70. (TOMITA, 2004:88-102)
Dentre as religiões
japonesas com maior representatividade no Brasil temos: Igreja Messiânica ou
Johrei Center, Seicho-no-Ie, Perfect Liberty, Tenrikyo e Mahikari.
HINDUÍSMO
O Hinduísmo é uma das
religiões mais antigas. Não tendo um fundador, a religião hinduísta se
formou da união de crenças de outros povos com a crença dos habitantes da
Índia. O Hinduísmo, na verdade, se compõe de toda uma intersecção de
valores, filosofias e crenças, derivadas de diferentes povos e culturas.
Na sociedade Hindu tudo
que existe, desde a natureza até a divisão da sociedade em castas, é
justificada pela religião.
A religião Hindu está
alicerçada em duas fases: a primeira fase Hinduísmo Védico e a segunda,
Hinduismo Bhramânico.
Na primeira fase do
Hinduísmo, que recebe o nome de Hinduísmo Védico, é a mais antiga, quando a
tradição oral do hinduismo era registrada em livros chamados Vedas
(CISALPINO, 1994:27). Na religião Hindu existe um grande número de
deuses. No período Védico temos o culto aos deuses Dyaus, ou
Dyaus-Pitar (Deus do Céu, em sânscrito), que era o deus supremo,
consorte da Mãe Terra. Doador da chuva e da fertilidade, ele gerou todos os
outros deuses.
No período Védico se
tinha como base e referencial a valorização do conhecimento, do saber.
Acrescenta-se ainda ao Vedismo o significativo valor aos sacrifícios em
favor dos antepassados e aos deuses.
Com a evolução da
religião hinduísta e tendo influência de outros povos principalmente dos
árias (indo-europeus – povos considerados nobres), tem-se uma nova fase
chamada de Bhramanismo. Esta é resultado de um desenvolvimento do vedismo.
Aos valores já
existentes agrega-se o conceito de reencarnação, ou seja, as condutas e
práticas da pessoa determinam a sua reencarnação (karma) e a salvação
que para os Hindus se chama nirvana (libertação). A salvação ocorre
quando alma se liberta dos ciclos de reencarnação e reencontra-se com o
todo, o absoluto, Bhrama. (CISALPINO, 1994:27-28).
Nessa fase ocorre à
ascensão de Brahma, a divindade que simboliza a alma universal. Brahma
é um dos deuses que compõem o Trimurti (Trindade) do Hinduísmo. Ele
representa a força criadora. Os dois outros deuses são Vishnu, o
preservador, e Shiva, o destruidor. Neste momento, surge a figura dos
brâmanes, que compõem a casta sacerdotal da tradição hindu. Os rituais
ganham uma série de componentes mágicos e elaboram-se idéias mais complexas
acerca do Universo e da alma.
Outros deuses fazem
parte da cultura Hindu como Indra, senhor dos deuses, representado como
um touro, Aurora, mãe de todas as criaturas, representada como uma vaca,
entre outros. CISALPINO, 1994:26).
A partir do século XI a
Índia é invadida pelos muçulmanos e durante aproximadamente 500 anos, o Islã
se desenvolveu na Índia e na maior parte do tempo foi intolerante com a
religião hinduísta. Através do contato com a religião muçulmana surgiu na
Índia uma nova religião chamada Sikhismo que é uma ramificação do
Hinduismo e do Islamismo.
BUDISMO
O termo buda
significa sábio, iluminado, pessoa que conheceu a verdade. Desta palavra
adveio o termo budista para os praticantes desta religião.
O budismo é uma
doutrina criada pelo príncipe Sidharta Gautama no século VI a.C., filho do
rei da tribo de Sakya e pertencente a uma família nobre foi educado
no hinduismo brâmane, embora rejeitasse alguns pilares do bramanismo, como
por exemplo, a divisão da sociedade em castas. Aos 29 anos abandona a sua
posição e sua riqueza e passa a viver com extrema simplicidade buscando
compreender porque o povo sofre. Na busca por compreender estudou com vários
mestres e desenvolveu várias praticas tais como: jejuar, sacrifícios e
castigos corporais. Estas práticas não lhe deram as respostas e nem
responderam as sua dúvidas e por isso deixou de praticá-las. Um dia
sentou-se sob uma figueira sagrada e após longas horas de meditação, atingiu
a iluminação e a descoberta da verdade. (CISALPINO, 1994:30).
Sidharta Gautama não
deixou nada escrito, todas as suas pregações foram reunidas e codificadas no
ano 253 a.C. A doutrina budistas têm como base as Quatro Nobres Verdade e no
caminho sagrado das oito direções. As quatro verdades são: A vida é cheia de
dor; a origem da dor é o desejo; o fim dar dor só é possível com o fim do
desejo e a superação do sofrimento se alcança através do sagrado caminho das
oito direções, que conduz à perfeição do ser. Os caminhos sagrados das oito
direções são:
a)
Fé pura: a verdade é o guia do homem;
b)
Vontade pura: ser sempre calmo e nunca fazer dano a nenhuma criatura;
c)
Palavra pura: nunca mentir, nunca difamar ninguém e nunca usar a
linguagem grosseira ou áspera;
d)
Ação pura: nunca roubar, nunca matar e nunca fazer nada de que uma
pessoa possa mais tarde arrepender-se ou envergonhar-se;
e)
Meios de existência: nunca escolher uma ocupação que seja má, tal
como a falsificação, manejo de coisas roubadas, usura e semelhantes;
f)
Atenção pura: procurar sempre o que é bom e afastar-se do que é mau;
g)
Memória pura: ser sempre calmo e não permitir-se pensamentos que
estejam dominados pela alegria ou tristeza;
h)
Meditação pura: consegue-se quando todas as outras regras foram
seguidas e a pessoa atingiu o nível de paz perfeita. (WILGES, 1982:52)
Na doutrina
budista não há a crença em um deus e nem Buda é um deus. A salvação budista
é feita pelo próprio homem, pois segundo a doutrina todos os seres podem
chegar a atingir o estágio de Buda, ou seja, de iluminação, basta praticar
as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Sagrado das oito direções.
Na religião budista se
pratica o culto aos antepassados, através de altares chamados de Butsudan.
No Butsudam são assentados os antepassados da família os quais
recebem orações diárias com objetivo de evoluírem. Para os budistas a pessoa
está sujeita as sucessivas reencarnações que podem ser boas ou más, ou seja,
tudo dependerá das ações e práticas que realizou na sua vida anterior.
Embora o Budismo tenha
nascido na Índia, ele se propagou em outros países: Sri Lanka, Mianmar,
Laos, Tailândia, Camboja, Tibet, Mongólia, Manchúria, Rússia, Nepal, Japão,
China e também em muitos outros países do Ocidente.
O Budismo se dividiu em
várias correntes. As principais são: o Budismo Hinayama, o Budismo
Mahayama, o Budismo Vajrayana e o Budismo Lamaísmo.
TAOÍSMO
Lao Tsé foi o fundador do taoísmo. A palavra tao significa
‘caminho’, ‘principio universal da vida’, ‘razão suprema’, ‘procedimento
correto’.(CISALPINO, 1994:37) A religião Taoísta em seu inicio por ser
mais uma filosofia que busca a integração do individuo a ordem universal
pela compreensão da essência do universo não possuía cultos sistematizados e
nem uma hierarquia sacerdotal, com o passar dos anos passa a se constituir
como uma religião de salvação edificando igrejas hierarquizadas com
sacerdotes que dirigem os cultos. Ao se constituir como uma igreja de
salvação o taoísmo se afasta do taoísmo original.
A base do pensamento Taoísta se encontra no livro Tao-te Ching. Nesse
livro consta que o universo inteiro é feito por dois princípios
fundamentais:
Yin
e Yang. Yin e Yang são princípios opostos. O yin
é o principio feminino da realidade. Dessa forma, são: Yin o
frio, o molhado, o escuro, o ódio, o estático etc. O Yang é o oposto
de Yin. Ele o princípio masculino: o quente, o seco, o claro, o amor,
o dinâmico etc. (SCHIMIDT,1999:125)
Para Lao-tsé o princípio da harmonia estava em equilibrar o Yin e o
Yang e estes estão em todas as coisas. Esse princípio para Lao-Tse é
o Tao. É através do Tao que se consegue vencer uma batalha, ter uma boa
comida, ter boas relações, evitar doenças, trabalhar com alegria e
disposição etc. (SCHIMIDT,
1999:125)
Um das formas de se atingir o Tao e pelo caminho da meditação. A
meditação profunda leva a compreensão das duas forças opostas que estão em
todas as coisas e seres do mundo.
Para o Taoísmo a desordem, a confusão, a destruição e a doença se da quando
não se consegue equilibrar as duas forças opostas. Quando isso ocorre deve
se buscar recuperar o equilíbrio, o Tao para que tudo volte ao estado
de verdadeiro equilíbrio.
Neste aspecto o taoísmo é uma doutrina a respeito da felicidade. A pessoa
perde a felicidade quando rompe sua ligação harmônica com a unidade, ou
seja, com o Tao.
CONFUCIONISMO
O fundador do
confucionismo foi Kung-fu-tzu (conhecido como Confúcio no Ocidente) não era
propriamente um líder religioso, mas suas idéias exerceram profundas
influencia na religião chinesa a partir do século V a.C. O Confucionismo
está mais voltado para uma filosofia que atua sobre a ordem social, moral e
governamental, do que propriamente para uma religião.
O confucionismo
tornou-se religião oficial da China entre 1644 e 1912 e exerceu uma forte
influencia na sociedade chinesa, principalmente porque objetivava reformar
os costumes da época e libertar a sociedade da degradação moral, que segundo
Confúcio era o motivo que levava as guerras e a destruição.
O fundador do
Confucionismo defendia que a harmonia na sociedade chinesa seria alcançada
quando toda a população fosse educada para obedecer às tradições. O
processo de obediência pressupõe o respeito a hierarquia, ou seja, filho
deve obedecer o pai em silencio, o aluno deve obedecer o mestre sem
questionar, o homem comum deve obedecer o imperador sem contestar e o
camponês deve obedecer o nobre sem resistência. (SCHIMIDT,1999:127)
Tradição e
obediência se tornaram um imperativo na China. Estas deveriam estar aliadas
a um programa educacional intenso, pois para Confúcio, a ignorância era o
pior obstáculo para melhorar o caráter.
De acordo com a doutrina de Confúcio
a ordem social e manutenção do Estado são adquiridas quando o principio de
lealdade é praticado na sociedade. O filho deve ser leal ao pai, assim como
o súdito deve ser leal ao soberano. Por outro lado tanto o pai como rei
devem ter como principio a justiça. Agindo assim tanto o filho como súdito
serão leais. (CISALPINO, 1994:39)
Se todos agirem desta forma a sociedade não entra em desequilíbrio.
Confúcio defendia a
justiça para todos como o fundamento da vida em um mundo ideal devendo
prevalecer os princípios de humanismo, cortesia, piedade filial, virtudes
da benevolência, retidão, lealdade, integridade do caráter e a condenação da
vaidade. (SOUZA, 2001:34)
Segundo a doutrina de
Confúcio, o ser humano é composto por quatro dimensões: o eu; a comunidade;
a natureza; o céu (fonte da auto-realização definitiva).
O eixo central da
doutrina Confúcio é o “caminho do céu” (Tao) o qual todas as pessoas
deveriam procurar seguir. Para alcançar tal objetivo a sua vida diária
deveria ser pautada nas cinco virtudes morais. Essas virtudes essenciais
para homem são: benevolência, retidão, decência, sabedoria e
sinceridade. (WILGES, 1982:33)
Na China desde os
tempos mais remotos sempre teve uma preocupação com os antepassados. A
veneração aos antepassados era uma forma de demonstrar a sua gratidão e
respeito, pois se acredita que eles sendo respeitados poderiam demonstrar a
sua gratidão ajudando, influenciando e iluminando os imperadores,
governantes e o povo.
A doutrina de Confúcio
encontra-se nas compilações chamadas Cinco Clássicos (Wu Ching) e nos
Quatro Livros (Shih Shu) os quais são:
Os Cinco Clássicos
Shu Ching
(Livro dos Documentos),
sobre a organização política de cinco dinastias da China; I Ching
(Livro das Mutações), sobre a metafísica; Li Ching (Livro das
Cerimônias), sobre a visão social; Shi Ching (Livro das Poesias),
sobre a antologia secular e religiosa; Chun-Chiu (Anais das
Primaveras e Outonos), sobre a história da China. (SOUZA, 2001:36-37)
Os Quatro Livros
Ta Hsio
(Grande Aprendizado), ensinamentos sobre a virtude; Chung Yung
(Doutrina do Meio), ensinamentos sobre a moderação perfeita; Lun Yu (Anacletos),
coleção das máximas de Confúcio, seus princípios éticos; Meng-Tze (Mêncio),
obra do grande expositor de Confúcio.
RELIGIÕES E
RELIGIOSIDADES AFRICANAS
No continente Africano
havia e ainda há várias religiosidades e religiões, fruto da existência de
centenas de etnias, da influência de povos de outros lugares, a exemplo dos
árabes, europeus, e de outros fatores.
Diversos pesquisadores
europeus[i],
considerados clássicos, e resgatados pela pesquisa de BASTIDE (1971),
apontam aspectos gerais das religiões africanas até o séc. XVI, e que
consistem em:
o
As
religiões eram ligadas à família, envolvendo ancestralidade e relações de
parentesco; havendo o culto aos antepassados; em algumas regiões, como no
antigo reino do Congo, ficava evidente a ancestralidade dos deuses sobre os
homens e sobre seus familiares. Os deuses foram os fundadores das dinastias,
justificando o surgimento dos reinos. A transmissão era hereditária pela
linha de descendência masculina;
o
Há muitas
referências ao animismo, à vinculação do sagrado às forças da natureza,
compondo uma mitologia que explica o surgimento do mundo, e dos deuses e
divindades;
o
Em
algumas regiões (Moçambique, por exemplo), o deus ancestral do rei ou do
chefe da tribo era o principalmente cultuado e servia como intermediário
para com os outros deuses;
o
Os deuses
tinham atributos e funções específicas, para os quais eram chamados,
independente de serem o ancestral do grupo (Deus da chuva, protetor da
agricultura, da cura pelas ervas...);
o
Entre os
iorubás e os daomeanos, todo homem descendia de uma divindade e ao ancestral
do grupo eram prestados serviços. Havia um altar familiar, um sacerdote ou
um preposto e, nos meios mais urbanos, um templo ou santuários para a
realização das festas e serviços;
Pesquisas mais
recentes de PARÉS (2006), remontam a origem das diferentes designações para
os deuses africanos dentre as etnias que vieram para o Brasil. Entre os
Iorubas, as divindades são denominadas orixás e entre demais
grupos gbé-falantes (área do Golfo do Benin, do rio Volta ao rio Níger), o
termo vodum é mais freqüente para referir-se às divindades.
O ENCONTRO DE
RELIGIÕES NO BRASIL E AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
O Encontro dos
Africanos com o Catolicismo no Brasil
No século XVI inicia-se
o tráfico negreiro para o Brasil,
e nos porões dos
navios escravistas
as
várias religiões e religiosidades africanas se encontraram. Entretanto
sabe-se que muitas delas já estavam em contato devido às conquistas e à
submissão entre os povos africanos. Essa amarga viagem promoveu a separação
entre grupos de religiões comuns, entre, etnias, grupos, familiares, clãs.
Aqui teria havido uma mistura entre idiomas africanos, com a prevalescência
de troncos lingüísticos e surgimento de uma língua em comum com relativo
entendimento por várias etnias. Após a chegada ao Brasil, os africanos foram
convertidos ao catolicismo, que era a religião
oficial e
obrigatória. O senhor tinha que batizar o escravo em, no máximo 5 anos após
a chegada, impondo-lhe um nome cristão.
A
Igreja tinha várias formas de controle e repressão. Uma delas e a mais
violenta era o Tribunal do Santo ofício da Inquisição, que visava punir
praticantes de atos mágicos (bruxaria, feitiçaria ou curandeirismo), de
aberrações sexuais ou outras atividades pagãs, atribuídas à influência do
demônio. No Brasil, a Inquisição fez visitas (entre 1591 e 1768, na Bahia,
Pernambuco, Pará e Maranhão), nas quais processou muitos brancos, índios e
negros, promovendo deportações para julgamento pelos tribunais em Portugal.
Apesar da conversão, a
religiosidade africana mantinha-se com os batuques nos canaviais e uma
aparente
assimilação dos
santos brancos católicos, ao lado da exaltação dos santos negros (São
Benedito, Senhora do Rosário), por vezes tidos como intermediários com os
ancestrais e/ou orixás.
O Catolicismo
neste período era místico e mágico, com forte devoção aos santos, em
especial aos santos guerreiros que aludiam a saga dos conquistadores no Novo
Mundo: São Jorge, Santo Antonio, São Sebastião, São Miguel. Outros santos
eram invocados para livrar das pestes e doenças tropicais: São Roque, São
Lázaro, São Braz, N. Sra. das Cabeças (hidrocefalia). As Nossas Senhoras
ajudavam nos momentos difíceis: N. Sra. Das Dores, do Parto, da Conceição. A
missa e sacramentos apresentavam a força dos atos mágicos, com pão e vinho
bentos, rezas em latim, sinos e campânulas, trajes sacerdotais com cores
fortes e imponentes, altar com relíquias e uso de incensos. As capelas eram
bem ornadas com anjos de expressões impressionantes e vivas e os rituais
para os mortos eram muitos. Os católicos usavam vários elementos com fins
religiosos: fitas na cintura, medalhas, santinhos, orações escritas debaixo
do travesseiro ou junto ao corpo, água benta, preces para afastar maus
espíritos. Todos estes fatores favoreceram o sincretismo com as religiões
indígenas e africanas. (BASTIDE, 1971).
A partir do séc. XVII,
o catolicismo brasileiro, até então uma religião doméstica e rural, passou a
ser uma religião das cidades que se formavam ao redor dos engenhos de açúcar
do litoral ou das minas de ouro do interior. As igrejas passaram a ser os
centros aglutinadores das atividades religiosas e da comunidade.
Posteriormente, com o crescimento das cidades decorrente da multiplicação
das atividades econômicas (a partir do séc. XVIII), houve uma proximidade
entre as classes intermediárias – mestiços, negros alforriados e “escravos
de ganho” (que trabalhavam como vendedores, barbeiros e carreadores) e que
se reuniam em associações de ofício e de lazer (danças, rodas de capoeira e
de batuque). (idem,idem).
Neste contexto a missa,
e as festas religiosas ou cívicas que envolviam procissões, autos e
folguedos quebravam a rotina de trabalho e eram momentos de reunião de toda
a sociedade. Nelas os negros participavam, mas em espaços reservados a eles,
como nos pórticos, onde assistiam à missa em pé. Na nave principal as
famílias senhoriais ocupavam os bancos de acordo com sua riqueza e
prestígio. A participação do negro era marcada pela alegria, musica, dança e
utilização de instrumentos de percussão, fato que desagradava e chocava a
sociedade conservadora colonial. Por isso, sob pressão da aristocracia, a
Igreja proibiu, em muitos casos, a realização das cerimônias dos negros
junto com as festas católicas. Tal proibição deu origem a celebrações
populares como as congadas, moçambiques, folias de reis e o próprio
carnaval. Outra forma de separação foram as irmandades dos “homens de cor”
(associações como as Confrarias, Ordem terceira, Santa Casa de
Misericórdia), separadas segundo a cor da pele e a condição de escravo
(reunidos por nações) ou liberto. Essas irmandades, criadas pelos jesuítas
em 1586, reuniam às vezes só homens ou só mulheres, organizando suas
próprias cerimônias e festas e funcionavam também como associação de auxílio
mútuo para comprar alforrias e assegurar um enterro cristão e digno aos seus
filiados. Muitas irmandades construíram suas próprias igrejas em várias
cidades do país.
CALUNDUS E BATUQUES
Segundo os
levantamentos de BASTIDE (idem), até o séc. XVIII o nome mais comum das
manifestações religiosas afro-brasileiras parece ter sido o Calundu, termo
de origem banto, ao lado de Batuque abrangia danças, cantos, tambores e
rituais. Os Calundus precederam os terreiros de candomblé que existem hoje e
também outras religiões afro-brasileiras.
Eram cultos que
apresentavam uma organização envolvendo a presença de um sacerdote e uma
diversidade de cerimônias que continham: os elementos africanos (atabaques,
transe por possessão, advinhação por búzio, trajes rituais, sacrifício de
animais, banhos de ervas, ídolos de pedra, etc.), os elementos católicos
(crucifixos, anjos católicos, sacramentos como o casamento) e o espiritismo
e crenças populares de origem européia (advinhação por meio de espelhos,
almas que falam através dos objetos ou incorporadas nos vivos, etc.). O
sincretismo não modificava apenas o catolicismo, introduzindo ritos nas
festas e procissões nos pátios de igrejas e reuniões das irmandades, mas
também foi elaborado dentro dos cultos africanos (SILVA, 2005).
Os primeiros calundus
foram descritos em fazendas, nas matas e roças ou nos espaços contíguos à
senzala – o terreiro. Tais condições imprimiam muitas dificuldades aos
cultos aos deuses africanos, que requerem uma série de interdições,
recipientes especiais e elementos naturais que os representam como água,
pedra, peças de ferro, etc.. tais elementos são tratados como coisas vivas
(porque os deuses habitam neles), e devem ficar em local consagrado e de
acesso reservado, onde são feitas oferendas de alimentos e sacrifícios de
animais que renovam sua força mágica e a de seus cultuadores.
O crescimento das
cidades e do número de libertos propiciou condições para as manifestações
religiosas se desenvolverem: os cultos passaram a ser feitos em moradias
(muitas das quais eram coletivas, em casarões abandonados), mais
resguardados da repressão policial. A vigilância policial justificava-se
pelo temor de que a reunião de negros corroborasse com a formação de
quilombos e de insurreições, como a dos malês (feita por africanos
islamizados).
O Encontro de
Religiosidades Africanas, Católica e Indígenas
Se a história do Brasil
é marcada pelo encontro de diferentes povos e culturas, a história das
religiões no Brasil não poderia ser diferente. Como vimos anteriormente, os
índios, mesmo submetidos à conversão religiosa, não abandonaram suas crenças
e o encontro entre populações indígenas, européias e africanas fez surgir
religiões e religiosidades bem peculiares.
A primeira destas
junções de crenças entre elementos da pajelança indígena com o catolicismo
colonial parece ser a Santidade (reprimida pela Inquisição em 1591/2), que
partia de um culto a um ídolo de pedra chamado Maria, e contava com
elementos que permaneceram no Catimbó, religião iniciada no período de
transição do campo para a cidade.
CATIMBÓ, CABULA E
MACUMBA
No Catimbó
(região norte e nordeste) o culto indígena dos caboclos se une à devoções
católicas e africanas. No altar com santos católicos e crucifixo juntam-se
elementos da magia indígena e africana. Há o uso do fumo, e da jurema ou
ajuá, como substâncias que permitem o contato com o espírito dos mortos.
Assim, as antigas divindades indígenas vão reunir-se aos espíritos dos
catimbozeiros célebres, dos quais alguns eram negros, e dos mestres
africanos, para participar do reino dos encantados (divindades).
A Cabula era
praticada no Espírito Santo, em fins do século XIX, por negros, mas com a
presença de alguns brancos.
As cerimônias (engiras)
secretas e à noite eram realizadas em casas e mais frequentemente nas
florestas, e conduzida pelo sacerdote chamado de embanda. Os fiéis vestiam
branco e preparavam a mesa (com toalha, velas e pequenas imagens), iluminada
por uma fogueira. Entoavam cantos aos espíritos e divindades, acompanhados
por palmas. Nos rituais havia ainda o vinho, o incenso e o uso de plantas e
de um pó sagrado para afastar espíritos inferiores e preparar o ambiente
para a tomada do Santé – incorporação do espírito protetor.
A Macumba
foi escrita por
pesquisadores já no século XX, no Rio de Janeiro (especialmente A. Ramos em
1940) e se aproximavam muito das práticas da Cabula. O chefe também se
chamava embanda, umbanda ou quimbanda e seus ajudantes cambono ou cambone.
As iniciadas eram filhas de santo (influência jeje-nagô) ou médiuns
(influência do espiritismo). As divindades como os orixás, inquices,
caboclos e os santos católicos eram agrupadas por falanges ou linhas (da
Costa de Quimbanda, Umbanda, do Mar, de Cabinda, de Caboclo, Cruzada, etc).
Nas cerimônias cultuavam-se diversas linhas. A abrangência dos cultos sob o
termo macumba parece ter sido um dos motivos de sua popularidade e de seu
uso indiscriminado para se designar as religiões afro-brasileiras em geral,
junto ao fato do Rio de Janeiro, como capital da República, ser grande
difusor da cultura nacional.
RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS MAIS CONHECIDAS HOJE: CANDOMBLÉ, UMBANDA, BATUQUE
E TAMBOR DE MINA.
Da
junção de religiões africanas se compõe no Brasil o Candomblé, cujos
rituais prestam cultos a diferentes divindades: orixás, voduns ou inkices
(pouco mais de uma dúzia, dentre as centenas que existiam na África) e
também, em muitos casos, a divindades relacionadas ao Brasil, como Caboclos
e Pretos-Velhos. Esta religião sofre variações regionais e, dentro de uma
mesma região também se diversifica pelas influências predominantes de
origens ou de “nações”[ii],
que definem diferenças no ritual (instrumentos, ritmos dos atabaques, língua
usada nos cantos, nome das divindades, ritual e concepções). Assim temos em
parte do nordeste o Xangô, e em outras regiões o Candomblé Jeje/nagô (Keto),
o Candomblé Angola (banto, que teria sido o herdeiro da cabula, macumba e
candomblé de caboclo/BA). Os templos de candomblé são conhecidos como
terreiros ou roças e são conduzidos por um sacerdote (pai-de-santo ou
mãe-de-santo). Diferente do que acontecia na África, aqui o sacerdote une
diferentes funções: as litúrgicas, de advinho, de cura, aconselhamento, etc.
Os fiéis são chamados de filhos-de-santo e devem cumprir uma série de
preceitos e condutas transmitidas oralmente e ao longo do tempo em que
realiza a sua formação religiosa. Nesse período passa por uma série de
rituais (iniciação, e outros). Nesse processo o fiel conhece sobre sua
ancestralidade religiosa, sobre a religião e se prepara para prestar devoção
às divindades, dentro dos cânones da religião. As atividades rituais
compõem-se de culto às divindades (principalmente os Orixás), que se
incorporam pelo transe nos fiéis iniciados, os quais são preparados para
recebê-los com a indumentária (roupas, colares de contas, chapéus, coroas, e
outros adereços) nas cores correspondentes à divindade. Não há exclusividade
no transe, e o fiel pode receber mais de uma divindade em uma performance
seriada. Os orixás têm uma mitologia relacionada à África, na qual
apresentam seu arquétipo, sua natureza e estas características se apresentam
nos fiéis iniciados, em seu comportamento e sua trajetória dentro e fora da
religião.
A
Umbanda
é uma
religião presente em diversas regiões do país, e que tem origem no início do
século XX (BA, RJ e SP). Muitos autores remontam aos anos 1920, a partir da
cisão de descontentes na macumba carioca e do espiritismo kardecista.
Sua formação teria unido descontentes das duas religiões, buscando
uma saída para o estigma vinculado à religiosidade negra e africana.
Há também informações sobre o surgimento da religião em 1904 e 1908,
datas que foram adotadas como marco histórico por adeptos e associações.
Para a Federação Internacional Afro-brasileira – FIETRECA, “a partir de
1904, começaram a surgir no Rio de Janeiro várias casas de Umbanda
denominadas de ‘tendas’. O termo tenda era utilizado para designar e
distinguir a forma de culto adotado”. Já a Federação Brasileira de
Umbanda, tem como referência a data de 1908[iii].
Na antiga capital da
república, a umbanda sofreu com o impacto da perseguição policial e das
influências de outras religiões. Assim, associa elementos de religiosidades
africanas, indígenas, européias (catolicismo, Kardecismo) e também
orientais. Entretanto, a umbanda retém os elementos essenciais da macumba ou
do candomblé, dos quais conserva o sistema de correspondências místicas
entre as cores, os dias, as forças da natureza, as plantas e os animais e
manifesta grande influência do espiritismo kardecista em seus aspectos
doutrinários. As divindades – Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos,
Exus e Pomba-giras, são agrupadas por linhas e falanges, relacionadas aos
orixás. Há o culto aos santos católicos. Entretanto as divindades estão mais
presentes nos rituais, por meio da incorporação nos fiéis e apresentam a
função de fazer a caridade, auxiliando aos que as procuram. Os templos
religiosos são conhecidos como terreiros, tendas ou centros espíritas, nos
quais as cerimônias são conduzidas por um ou mais sacerdotes (pais ou
mães-de-santo ou médiuns). Os fiéis são chamados de filhos-de-santo ou de
médiuns e incorporam, através do transe, as divindades às quais se relaciona
pela ancestralidade mítica, revelada durante sua formação religiosa. Em
geral os fiéis vestem-se de branco para os rituais e usam poucos adereços
(colares de contas, terços). As divindades, prestam consultas a quaisquer
pessoas que compareçam ao templo, independente de suas convicções
religiosas, em geral de forma gratuita. Nestas consultas realizam
benzimentos ou passes, aconselhamentos e curas de doenças usando ervas,
bebidas (inclusive água), orações (inclusive católicas) e também a magia
religiosa para afastamento de maus espíritos. Há uma grande diversidade de
ritos na Umbanda, a depender da maior ou menor influência de outras
religiões como o candomblé, a macumba, a cabula (das quais apresenta
elementos), além do kardecismo, catolicismo, das religiões indígenas outras.
O
Batuque
foi pesquisado a partir dos anos 1940, e é uma religião bem conhecida e
popular no Rio Grande do Sul, onde estima-se a existência de 80 mil templos
de religiões afro-brasileiras, dentre estes o que se conhece hoje como
Batuque “puro”, representa 15%, a linha cruzada (com elementos da umbanda),
80% e a umbanda “pura”, também conhecida como linha branca 5%. A maioria dos
templos são pequenos e nem sempre muito visíveis pela rua.
O
Batuque gaúcho apresenta a diversificação em torno das
“nações”: Cabinda (bantos), Oio (povos Iorubas) e Jêje(do atual Benin),
demonstrando especificidades nos rituais e concepções. Como no Candomblé, há
uma correspondência entre orixá e dia da semana, e também com as cores; As
atividades rituais são compostas de cerimônias de culto aos orixás e
divindades e, como no candomblé, há o sacrifício de animais como oferendas
aos orixás em rituais específicos (aniversário do orixá, rituais de
iniciação ou de promoção do fiel, e outros). A iniciação do fiel inclui,
além dos rituais no terreiro, a participação em missa católica. Nesta
religião a hierarquia é menos extensa que no candomblé e também há um
acúmulo de funções ao pai-de-santo. O panteão acompanha o do candomblé e, na
linha cruzada, também o da umbanda.
O Batuque expandiu-se
para outros países do cone sul, como Argentina, Uruguai e Paraguai, onde em
geral, são denominados por Umbanda.
O Tambor de Mina
é uma religião muito popular na região Amazônica, especialmente no Pará e
Maranhão. Só no Pará conta com cerca de 2.500 terreiros. Sua formação é
marcada por uma junção entre o as religiões de origem indígena
(especialmente o Catimbó), de origem africana, de origem européia
(catolicismo, espiritismo) e os afro-brasileiros. Assim, seu panteão se
compõe de orixás ou voduns, divindades brasileiras como os Caboclos,
Pretos-Velhos, de santos católicos e também com divindades (encantados)
provenientes de outras origens, como é o caso dos Turcos (rei e princesas
turcas). As divindades formam uma série de linhas ou famílias, segundo sua
origem étnica ou sua posição geográfica na natureza. Nos templos as
cerimônias são conduzidas pelo sacerdote (pai ou mãe-de-santo) e prestam
culto às divindades. As divindades se manifestam por meio do transe, em
fiéis preparados (iniciados) para esta função, adequadamente trajados, em
especial nos dias de festa. A iniciação é próxima à do candomblé, com o
recolhimento do fiel, que sofre interdições alimentares, de ações e palavras
e também do contato com a maioria das pessoas durante alguns dias. Nestes
dias ele recebe orientação religiosa, alimentação especial, se submete a
rituais de purificação e passa por uma espécie de renascimento, a partir do
qual sua identidade religiosa será revelada e fortalecida.
Como se pode observar,
as religiões afro-brasileiras, bem como muitas religiões orientais, não são
exclusivas, ou seja o fiel, mesmo que iniciado, pode freqüentar templos de
outras denominações religiosas. O que conta é sua intenção de aproximar-se
do sagrado. Assim, reconhecem a diversidade e a validade das diferentes
formas de representação da fé religiosa.
O respeito à liberdade
religiosa está prescrito em nossa Constituição e os atos movidos pela
intolerância constituem-se em condutas ilegais. Mesmo se não fossem ilegais,
iriam em desencontro à formação da humanidade, composta por diferentes
etnias e culturas, cada uma delas com sua forma de conceber o mundo e
relacionar-se com ele, com suas crenças, com seus deuses e suas formas de
cultuá-los. Por isso é importante saber um pouco sobre estas diferentes
formas de pensamento religioso para combater a intolerância de alguns que se
acreditam superiores em sua crença, cor, origem e posição social e que por
isso acreditam que devem impor seu modo de conceber o mundo aos demais.
Tabelas da
distribuição das religiões no Brasil
Tabela 1 – As religiões
do Brasil em 2000
Religião
|
Número Absoluto
|
%
|
Católicos
romanos
|
124.976.912
|
73,77
|
Evangélicos
|
26.166.930
|
15,44
|
Protestantes
históricos
|
7.159.383
|
4,23
|
Pentecostais
|
17.689.862
|
10,43
|
Outros
evangélicos
|
1.317.685
|
0,78
|
Espíritas
|
2.337.432
|
1,38
|
Espiritualistas
|
39.840
|
0,02
|
Afro-brasileiros
|
571.329
|
0,34
|
Umbanda
|
432.001
|
0,26
|
Candomblé
|
139.328
|
0,08
|
Judeus
|
101.062
|
0,06
|
Budistas
|
245.870
|
0,15
|
Outras
Orientais
|
181.579
|
0,11
|
Muçulmanos
|
18.592
|
0,01
|
Hinduístas
|
2.979
|
0,00
|
Esotéricos
|
67.288
|
0,04
|
De tradições
indígenas
|
10.723
|
0,01
|
Outras
religiosidades
|
1.978.633
|
1,17
|
Sem religião
|
12.330.101
|
7.28
|
Declaração
múltipla
|
382.489
|
0,23
|
BRASIL
|
*169.411.759
|
100,0%
|
Fonte: Censo
demográfico 2000. IBGE
(*) Não inclui
387.411 casos de religião não declarada, 0,23% de residentes no país com
total em 2000 de 169.799.170.
Tabela 2 – Detalhamento
das religiões no Brasil em 2000
Total:
125.518.774 - 73,89%
|
124.980.132
|
73,57
|
|
500.582
|
0,295
|
||
38.060
|
0,022
|
||
Total:
26.184.941 - 15,41
|
de missão
(total)
|
6.939.765
|
4,085
|
3.162.691
|
1,862
|
||
1.209.842
|
0,712
|
||
1.062.145
|
0,625
|
||
981.064
|
0,578
|
||
340.963
|
0,201
|
||
148.836
|
0,088
|
||
outras
|
34.224
|
0,020
|
|
de origem
pentecostal (total)
|
17.617.307
|
10,37
|
|
8.418.140
|
4,956
|
||
2.489.113
|
1,465
|
||
2.101.887
|
1,237
|
||
1.318.805
|
0,776
|
||
774.830
|
0,456
|
||
277.342
|
0,163
|
||
175.618
|
0,103
|
||
128.676
|
0,076
|
||
Nova vida
|
92.315
|
0,054
|
|
outras
|
1.840.581
|
1,084
|
|
sem vínculo
institucional (total)
|
1.046.487
|
0,616
|
|
de origem
pentecostal
|
336.259
|
0,198
|
|
outros
|
710.227
|
0,418
|
|
outras
religiões evangélicas (total)
|
581.383
|
0,342
|
|
Outras cristãs
Total:
1.540.064 - 0,907
|
1.104.886
|
0,650
|
|
199.645
|
0,118
|
||
outras
|
235.533
|
0,139
|
|
Novas religiões
orientais
Total: 151.080
- 0,089
|
109.310
|
0,064
|
|
outras
|
41.770
|
0,025
|
|
Religiões
Afro-brasileiras
|
397.431
|
0,234
|
|
127.582
|
0,075
|
||
2.262.401
|
1,332
|
||
86.825
|
0,051
|
||
58.445
|
0,034
|
||
27.239
|
0,016
|
||
25.889
|
0,015
|
||
Tradições
indígenas
|
17.088
|
0,010
|
|
2.905
|
0,002
|
||
Outras
religiosidades
|
15.484
|
0,009
|
|
Outras
religiões orientais
|
7.832
|
0,005
|
|
12.492.403
|
7,354
|
||
sem declaração
|
383.953
|
0,226
|
|
não
determinadas
|
357.648
|
0,211
|
Fonte: Censo
demográfico 2000. IBGE
GLOSSÁRIO
Alteridade –
Qualidade ou estado daquilo que é diferente. A alteridade é também uma
atitude de reconhecimento do outro, seja ele uma pessoa, um grupo religioso,
étnico, cultural, político, ou ainda pertencente a outra espécie.
Doutrina
– é um conjunto de princípios, afirmações e preceitos de fé de uma
determinada religião.
Espiritualidades
– são técnicas e métodos que permitem ao fiel ou adepto de uma determinada
religião ou crença estabelecer uma relação imediata com o transcendente.
Hierarquia
- é a organização que divide as pessoas em classes, posições e as distribui
em diferentes níveis, estabelecendo funções.
Igreja –
a palavra igreja significa assembléia, congregação ou ajuntamento de pessoas
reunidas em torno de uma determinada crença.
Religiosidade –
é a dimensão do ser humano pela qual ele vive uma experiência no sentido
divino, sagrado, espiritual e transcendente da vida.
Religião –
é palavra de origem latina, derivada do termo religare, e significa
ligar de novo, unir, juntar. Religião é a re-ligação do ser humano com o
transcendente.
Ritos
– são gestos simbólicos repetitivos, isto é, que são realizados da mesma
forma. Os ritos são gestos que expressam uma determinada crença, geralmente
fazem parte de uma cerimônia ou ritual religioso.
Rituais
– conjunto de ritos que acontecem em uma cerimônia religiosa e podem marcar
uma transformação ou passagem para um novo estado de ser.
Símbolos religiosos
– objetos e elementos que trazem à lembrança algo ou alguém que não está
presente. Os símbolos religiosos são linguagens que comunicam idéias sobre o
transcendente.
Tradição –
palavra que significa transmitir ou passar adiante. A tradição se constrói
por meio da repetição, por exemplo, determinados acontecimentos importantes
para um grupo são celebrados sempre em uma determinada ocasião ou época do
ano.
Tradição religiosa –
termo que designa uma determinada matriz religiosa.
Transcendente –
é o que está além da materialidade, o que ultrapassa os limites da
compreensão humana, o que é inefável, infinito, ser supremo ou “Deus”, como
é chamado por algumas tradições religiosas.
Textos sagrados
– são textos considerados sagrados pelo seu conteúdo e por serem, segundo
diferentes religiões, inspirados pelo transcendente.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
ABDALATI, Hammudah. O Islam em foco.
Centro de divulgação do Islam para América Latina. São Bernardo do Campo -
SP,1989, p. 93.
BASTIDE, Roger. As
Religiões Africanas no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1971. (ed. em Francês:
1960) V. 1 e 2.
CISALPINO, Murilo. Religiões. São Paulo: Editora Scipione, 1994.
DURKHEIM, Emile. As
Formas Elementares de Vida Religiosa. São Paulo, Ed. Paulinas, 1989 (a
primeira edição francesa é de 1912).
JACOB, César Romero et
al. Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil. Rio
de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003.
MELO, Joaquim Pereira,
PIRATELI, Marcos Roberto (org). Ensaios sobre o cristianismo na
antiguidade: história, filosofia e educação. Maringá: Eduem, 2006.
NADAI, Elza e NEVES, Joana. História Geral: antiga e medieval. São
Paulo: Editora Saraiva, 1987.
PARÉS, Luis Nicolau.
A formação do candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia.
Campinas, SP: Ed. UNICAMP, 2006.
PASSOS, João Décio. Pentecostais: origens e começo. São Paulo:
Paulinas, 2005, p. 54.
SCHIMIDT, Mario Furley.
Nova história crítica. São Paulo: Nova Geração, 1999, p. 125.
SILVA, Vagner G. de,
Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira.2ª Ed. São Paulo: Selo
Negro, 2005.
SOUZA, Irivaldo Joaquim de. Introdução às Principais Religiões. História,
ecumenismo e diálogo inter-religioso. Maringá-PR: Editora Uem, 2001.
TOMITA, Andréa Gomes Santiago.
As Novas Religiões Japonesas como instrumento de transmissão de cultura
japonesa no Brasil.
Revista de Estudos da Religião Nº 3 / 2004 / pp. 88-102.
WILGES, Irineu Sílvio. Cultura religiosa: as religiões no mundo. 8.
ed. Petrópolis: Vozes, 1982
[i]
Frobenius, Parrinder, Kosler, Tolenare, Expilly, apud: BASTIDE,
R.(1971)
[ii]
A “nação”, segundo PARES (2006), é hoje uma modalidade de rito, ela
foi formada a partir da identidade de grupo, que era
multidimensional e estava articulada em diversos níveis (étnico,
religioso, lingüístico, político). Tal identidade decorria dos
vínculos de parentesco das corporações familiares que reconheciam
uma ancestralidade comum.
[iii]
Conforme informações divulgadas nos sites www. fietreca.org.br/umbanda.htm
e fbu.com.br/fbu.htm
Texto disponível em: http://www.dcs.uem.br/neiab/paginas/publicacoes/capitulo_do_livro_crencas_e_religioes1.htm
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