sexta-feira, 2 de setembro de 2016

ALIMENTOS SAGRADOS - BUDISMO (MATRIZ ORIENTAL)

TEXTO DE APOIO PARA O PROFESSOR



O Alimento na Religiosidade Zen Budista
Publicado originalmente na revista Diálogo – Revista de Ensino Religioso, nº 63, de Agosto/Setembro 2011 – pp. 20 – 25.
Nas religiões orientais há vários rituais dos quais os alimentos fazem parte, assim como em quase todas as religiões. As famílias japonesas da tradição zen-budista costumam ter em suas casas um butsudan – altar –, contendo uma imagem de Buda, tabletes memoriais, ou ihai, com os nomes dos antepassados e outros familiares falecidos, vela, incensário e vaso para flores. Há também uma taça para a oferta de água. Diariamente, alguém da família troca a água, acende a vela, oferece incenso e faz a leitura de um sutra – texto sagrado budista – em frente do altar. Pode ser que se ofereça também um pouquinho de arroz e, frequentemente se oferece alguma fruta – como maça, pêra ou laranja, ou algum doce.
Uma vez ao mês, as famílias recebem um monge, que faz a leitura de sutras para os antepassados. Nessas ocasiões, outros membros da família talvez participem desta pequena cerimônia. Neste dia, a oferta de uma refeição é feita, usando um conjunto de pratinhos especiais.
Nos mosteiros, os monges costumam usar um conjunto de tigelas – oryoki – para comer e as refeições são acompanhadas da recitação de versos, relembrando o esforço de trabalhadores no plantio, colheita e transporte dos alimentos.
As duas refeições principais nos mosteiros são o café da manhã e o almoço. Quando a comida está pronta, o cozinheiro chefe – tenzo – prepara uma oferta desta comida em tigelas de tamanho reduzido e a coloca numa bandeja alta chamado sambô. Ainda na cozinha, o tenzo coloca a oferta sobre a mesa, oferece incenso e faz nove prostrações. Então leva o sambô com a oferta até a sala de meditação, onde ela será colocada no altar, como uma oferta à memória de Buda.
No momento do almoço, os monges coloquem um pouquinho de arroz como uma oferta especial – sabá – para alimentar os gaki – espíritos famintos. Todo dia, no serviço vespertino, recitam, de uma forma simples e sem oferendas, o Sutra do Portal da Doce Néctar – Kanromon , simbolicamente oferecendo alimento novamente aos espíritos famintos.
Este sutra é composto de três partes:
1ª) Saudação aos Budas do Passado, ao Darma e à Sanga, ao Shakyamuni Buda, à Kannon Bodisatva e ao Venerável Ananda que são convidados para ocuparem o âmbito purificado para presenciar e dar aprovação à cerimônia.
2ª) Oferta, aos espíritos famintos, de comida e bebida, para que se tornam satisfeitos e despertem à prática e aos ensinamentos de Buda.
3ª) Recitação da Palavra Verdadeira – Shingon – e boas vindas aos Cinco TatagatasGo Nyorai – para conduzir todos os espíritos do mundo de sofrimento à Terra Pura.
Mas quem são estes “espíritos famintos”?
O conceito de “espíritos famintos” já fazia parte da cultura da Índia antiga, num período anterior ao Budismo, e pode ser encontrado em várias religiões. No Budismo, a tradição de “alimentar os espíritos famintos” começou na Índia e passou para os outros países, como China, Tibete, Japão, Tailândia, etc. na expansão dos ensinamentos budistas.
Orações oferecendo alimentos, incensos e bens para os deuses no templo budista vietnamita ong — Fotografia de Stock #27021041
De acordo com o Ullambama Sutra, um dos monges-discípulos de Buda, o Maudgalyāyana, tinha o poder de clarividência. Um dia, viu a sua mãe, que havia sido uma pessoa gananciosa e ciumenta durante sua vida, sofrendo num dos infernos. Havia se tornado um espírito faminto, um ser com uma barriga enorme, braços e pernas magros e um pescoço finíssimo como um palito. Devido ao pescoço tão fino, não conseguia engolir comida suficiente para satisfazer a sua fome. Sofria muito, sentindo-se “faminto” o tempo todo.
O Buda instruiu este monge a fazer uma oferta de alimentos à comunidade monástica no dia depois do final do retiro de verão tradicional dos monges. Assim que foi feito a oferta, o Maudgalyāyana viu, através de clarividência, que a sua mãe já estava livre de seu sofrimento e renascendo no mundo dos humanos. De tão alegre, ele dançou, o que deu origem de um tradicional modo japonês de dançar chamado Bon Odori.
Na China, devido à influência do confucianismo e taoismo, a oferta passou a ser direcionada também aos antepassados. No taoísmo acreditava-se que pessoas que sofrerem mortes violentas tornaram-se espíritos famintos. Deixar de realizar os serviços em memória dos antepassados com ofertas de alimentos levava-os a virar espíritos famintos que poderiam causar dificuldades para os vivos.
Isso, durante o sétimo mês lunar, período durante o qual se acredita que os portões dos infernos se abrem e os espíritos vêm à terra em busca de comida e entretenimento. Os chineses realizam, até hoje, o Festival dos Espíritos Famintos, quando oferecem alimentos e diversões, como música e danças aos antepassados, sendo que nas apresentações, as primeiras fileiras de assentos são reservadas para os espíritos famintos e ficam vazias.
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Desde 657, os budistas japoneses observam o O-bon, a versão japonês deste festival chinês. Atualmente, nos dias 13 a 15 do mês de julho ou de agosto, conforme a região no Japão, as famílias se reúnem para esta celebração. É um feriado nacional, quando todos procuram viajar até o local de seus ancestrais, para visitar o túmulo da família, participar da cerimônia religiosa Sejiki-e e alimentar os espíritos.
No dia 13, pequenos fogos são acesos, para servir de guias para os antepassados voltaram à casa da família para uma visita durante três dias.
Os monges budistas fazem a visita habitual em frente do altar da família, que está montado de uma forma especial com ofertas especiais de alimentos para este período festivo.
Dança-se o Bon O-dori, que lembra a dança do monge Maudgalyāyana , a fim de dizer  aos ancestrais que não se preocupem com seus descendentes, pois estão bem.
Para a Cerimônia Religiosa de Alimentar os Espíritos, o templo é decorado com faixas coloridas e um grande altar – Obon-dana ou Tama-dana – é montado à entrada do templo para facilitar a chegada de espíritos dos infernos e que podem sentir medo de chegar perto do altar principal onde tem a imagem de Buda, um ponto de muita luz. Uma grande variedade de alimentos é colocada sobre este altar: verduras, frutas e produtos alimentícios secos, além de três tigelas especiais: uma com arroz cozido, outra com água limpa e a terceira com uma mistura de arroz cru, lavado e misturado com pequenos pedaços de verduras picadas – mizunoko. Ramos de cedro verde ou de bambu são amarrados em pé nos quatro cantos deste altar.
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No centro do altar, é colocado um tablete memorial especial com as palavras San Gai no Ban Rei, isto é, Para Todos os Espíritos nos Três Mundos. Este ritual é dedicado aos espíritos que depois da morte não têm quem cuide de suas sepulturas, pois não mantem nenhum relacionamento com qualquer pessoa viva.
Na cerimônia, é recitado o sutra Kanromon, durante o qual o oficiante faz um ritual de chamar os espíritos famintos e preparar um alimento especial que é dado a eles.
As oferendas são expressões de gratidão aos antepassados, pois além da função de “alimentar os espíritos famintos”, esta é uma cerimônia de lembrança dos antepassados. Assim, os tabletes memoriais dos ancestrais das famílias que estão participando da cerimônia também são colocados neste altar e os seus nomes são lidos durante a cerimônia.
No último dia do O-bon, lanternas de papel – chôchin – são lançadas nos rios para iluminar o caminho de retorno para os ancestrais.
Uma cerimônia semelhante é realizada nos equinócios, também com oferendas de vários tipos de alimentos.
Talvez o aspecto mais importante destas cerimônias esteja no aprender a alimentar o “espírito faminto” que há dentro de nos. Todos têm um lado ganancioso, insaciável, e muitos não abrem o coração para receber ajuda. Ficamos insatisfeitos, sempre querendo mais – um novo celular, um novo jogo, uma nova roupa, um novo par de tênis, mais dinheiro…
Ao realizar as cerimônias de alimentar os espíritos famintos, na verdade, se está cuidando de si mesmo, para que possa ficar satisfeito.
Ao colocar oferendas de alimentos no altar, se está alimentando a si mesmo, a fim de descobrir o contentamento e, assim, realizar o Caminho de Buda e encontrar a paz e tranquilidade.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE:

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(Textos para o caderno: ensinoreligiosoemsala.blogspot.com.br - Professora Adriana)

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2 comentários:

  1. texto muito interessante, sou catolica e o unico ritual que pratico e conheço em minha religião é o habito de oferecer flores aos nossos falecidos, gostaria de outros de conteudos semelhantes.

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